Angola: João Lourenço critica "jogos de influência" no MPLA
26 de agosto de 2024O presidente do partido que suporta o Governo angolano, João Lourenço, reuniu hoje com os secretários dos Comités de Ação do Partido (CAP), órgãos das bases do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Foi o primeiro encontro do género na história desta força política.
Lourenço defendeu que é precisar dar mais atenção aos líderes comunitários do partido, que não são tidos nem achados na hora da promoção para cargos de direção, apesar do trabalho que fazem no terreno. Disse também que é preciso acabar com atos de nepotismo.
"É pena que, nas ocasiões em que precisamos de encher vagas nas direções do partido, nos mais diversos escalões até ao Comité Central, muitos desses camaradas são preteridos", lamentou o dirigente do MPLA.
Segundo João Lourenço, a culpa é dos "jogos de influência", que levam vários "militantes, amparados por algumas pessoas que já são membros da direção, a conseguir de forma desmerecida as vagas por preencher."
O presidente do MPLA pediu aos militantes das bases que denunciem estes casos.
Palavras de mudança
A reunião com os líderes comunitários decorreu à porta fechada no Centro de Convenções de Belas, em Luanda.
À DW, o primeiro secretário do CAP 424 do Capari, província do Bengo, Maurício Sapato, elogiou as declarações do presidente João Lourenço.
"Estamos convictos de que estas afirmações do camarada presidente vão refletir-se na execução das políticas públicas, sobretudo na forma como se vai fazer política nas bases daqui em diante", afirmou.
Prevenir é melhor do que remediar
Para além do assunto das promoções, os dirigentes comunitários falaram sobre os principais problemas que preocupam as comunidades. A pobreza, a falta de infraestruturas como estradas, escolas, hospitais e a carência da água estiveram em debate.
Avelino Pedro dirige um CAP no Zaire, província em que o MPLA perdeu para a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) nas últimas eleições gerais, em 2022. O militante pede que se resolvam os problemas básicos dos cidadãos para evitar maus resultados eleitorais em 2027.
"Os militantes do MPLA são os primeiros fiscalizadores da governação. Agora, o povo viu aquilo que se passou, e até hoje os militantes estão a cobrar", lembra Avelino Pedro. "São estas situações que queremos superar para que, nos próximos desafios, não aconteça mais", referiu.
Um jovem na chefia do MPLA?
O MPLA prepara um congresso extraordinário, agendado para o dezembro. No discurso de hoje, João Lourenço falou da possibilidade de o MPLA eleger um jovem ao cargo de presidente da organização.
"Vamos continuar a apostar nos nossos jovens, prepará-los e dar-lhes todas as oportunidades de ascenderem até onde suas capacidades permitirem, inclusive para assunção do mais alto posto de Presidente da República", afirmou Lourenço.
Para o jornalista e comentarista político José Gama, este é um discurso que visa retirar apoio da juventude a figuras de proa do partido que já vão manifestando a intenção de concorrer à liderança.
"O que ficou claro é que João Lourenço não quer um congresso de múltiplas candidaturas. O presidente não quer democratizar o MPLA e agora procurou fazer esta confusão, definindo o perfil do candidato para a liderança do partido", comenta.
Norberto Garcia, membro do Comité Central do MPLA, garante que o partido está unido apesar de rumores de desavenças. "O MPLA pode ter momentos piores, mas é um partido que, no momento certo, dá sempre o passo certo", sublinha.
O evento desta segunda-feira foi um "arrumar da casa", conclui Garcia.