Congresso do MPLA: Começou o processo de transição?
27 de junho de 2024Em Angola, já se fala bastante sobre este conclave dos "camaradas", agendado para dezembro. Discutem-se o processo de transição e a preparação para múltiplas candidaturas para o congresso ordinário de 2026.
A DW África conversou com António Venâncio, militante do Movimento Popular de Libertação de Angol (MPLA) e pré-candidato à presidência do partido que governa Angola desde 1975.
Venâncio afirma que o congresso foi convocado "num bom momento" porque servirá para abordar "assuntos inadiáveis ou urgentes", como, por exemplo, os 50 anos de independência angolana:
"Este congresso extraordinário poderá ter uma conotação histórica, pois estamos a viver um momento muito fértil para a democratização interna, um ambiente que permitirá ensaiar os nossos estatutos relativamente às múltiplas candidaturas."
"Antecedendo o congresso ordinário de 2026, este evento pode servir para ensaiar a forma prática como este princípio pode ser exercido," avalia.
Múltiplas candidaturas
Também a ensaiar está o general na reserva Higino Carneiro.
O antigo ministro das Obras Públicas e governador de Luanda já manifestou publicamente a sua pretensão de ser presidente do MPLA e, consequentemente, da República de Angola.
Outro nome mencionado é o de Bornito de Sousa, antigo vice-presidente da República.
Mas há mais candidatos.
O jornalista angolano residente na África do Sul, José Gama, aponta, por exemplo, a figura de Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó" - ex-primeiro-ministro e presidente da Assembleia Nacional.
"É um elemento muito credível no partido e muito aceite por todos. Há correntes internas a encorajá-lo a avançar com uma candidatura," afirma.
Desafios a superar
Então, está-se perante o início do processo de transição no MPLA?
José Gama responde que este congresso servirá essencialmente para separar as águas, uma vez que há contestação interna, tensões e correntes que querem o poder.
"O presidente, ao realizar os dois congressos, usará este extraordinário para debater questões do partido e da vida interna do MPLA," relata Gama.
"Assim, quando chegarem ao congresso de 2026, não terão de discutir questões que dividam os quadros ou os membros do partido," acrescenta o jornalista.
O congresso de 2026 será apenas para renovação de mandatos. José Gama explica a estratégia de João Lourenço.
"Toda a roupa suja do MPLA será lavada neste congresso extraordinário. Quando chegarem ao ordinário, estarão todos apaziguados e não perderão tempo com acusações mútuas," diz.
"Ele faz isso porque, na história do MPLA, já se provou, com a saída de José Eduardo dos Santos, que quando o líder está perto de sair ou cessar o poder a nível do Estado, o período em que perde o Estado é um líder enfraquecido," conclui.