1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Angola Merkel" título do Tageszeitung sobre a visita da chanceler à África

15 de julho de 2011

Angela Merkel visitou três países africanos em quatro dias: o Quénia, Angola e a Nigéria. Um périplo africano que inspira várias reflexões à imprensa alemã.

https://p.dw.com/p/Ra3g
Chanceler Angela Merkel, cumprimentada por estudantes da Univerdidade de Nairobi-Quénia (12.07)
Chanceler Angela Merkel, cumprimentada por estudantes da Universidade de Nairobi-Quénia (12.07)Foto: picture alliance / dpa

Nas colunas do Frankfurter Allgmeine Zeitung, Hans Meier-Ewert, diretor da "Afrika-Verein", associação empresarial para a África, defendeu um maior envolvimento das empresas alemãs no continente africano.

Ele saudou a visita de Angela Merkel às três potências regionais de África: o Quênia, Angola e a Nigéria. "A África", destacou Meier-Ewert, "é um continente dinâmico que teve entre 2001 e 2008 um crescimento de 6% e atingirá novamente um nível semelhante no futuro", disse.

Mas, na Alemanha, a imagem de África é sempre dominada por guerras, crises, doenças e catástrofes. "Esta imagem não tem muito a ver com a realidade na maioria dos países africanos", concluiu o diretor do "Afrika-Verein".

Escolha da Nigéria e de Angola, produtores de petróleo, não foi por acaso

Öl Industrie Afrika Arbeiter auf einer Öl Plattform in Nigeria
Exploração petrolífera na Nigéria - primeiro produtor da África sub-saariana, sendo Angola, o segundoFoto: picture-alliance/dpa/dpaweb

O que se pode ler noutros jornais é nitidamente menos entusiasta, como nota, por seu turno, o Frankfurter Rundschau... e não é o único.

Para o jornal, "a escolha da Nigéria e de Angola, os dois principais produtores de petróleo em África, não foi por acaso". Em seguida o jornal acrescenta: "a África assume uma importância cada vez maior no aprovisionamento da Alemanha em energia e matérias primas".

Segundo o Süddeutsche Zeitung, "o problema é que a Alemanha não se envolveu, até hoje, de forma concreta, para que as populações dos países africanos também fossem beneficiadas com as receitas do petróleo".

"Merkel e os grandes do petróleo", titulou o Süddeutsche Zeitung, ao sublinhar que a Nigéria e Angola ilustram, cada um à sua maneira "esta maldição dos recursos" muitas vezes questionada em África.

O jornal evoca a violenta guerra pelo petróleo que atinge o delta do Níger. E nota ainda que "muitos outros setores económicos foram literalmente afogados na Nigéria, porque é muito mais confortável ganhar milhões de petrodólares, do que investir a longo prazo noutras áreas".

Em resumo, para o Süddeutsche Zeitung esta viagem de Angela Merkel foi mais um sinal confuso, na medida em que Angola, como a Nigéria, pratica o contrário dos objetivos da política africana da Alemanha, ou seja, promover a proteção dos recursos, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento económico sustentável.

"Elites ricas e cidadãos pobres", escreveu, na mesma ordem de idéia, o Tagesspiegel de Berlim, ao sublinhar que "o défice democrático em Angola é tão grande como as suas reservas de petróleo".

Angela Merkel in Angola
Presidente de Angola, José Eduardos dos Santos, recebe em Luanda (13.07), chanceler alemã Angela Merkel.Foto: dapd

Barcos de patrulha alemães para Angola?

Entretanto, a visita de Angela Merkel, a Angola desencadeou aqui na Alemanha uma grande polémica.

"Angola Merkel", como escreveu o Tageszeitung, ofereceu na quarta feira (13.07) ao presidente José Eduardo dos Santos de Angola, a possibilidade de comprar barcos de patrulha alemães, uma iniciativa que desencadeou várias críticas no seio da oposição. "É uma falta de visão" escreveu o Süddeutsche Zeitung para concluir que "se trata de uma provocação".

"Os esforços da Alemanha para conquistar mercados em África assumem contornos originais", escreveu numa outra edição o Tageszeitung ao noticiar a proposta feita pela chanceler Angela Merkel de vender à marinha de guerra angolana barcos de patrulha alemães.

"O nosso objetivo", disse Merkel, é que conflitos regionais possam também ser pacificados por tropas regionais", tendo citado como exemplo a Somália e o Sudão.

O jornal acrescenta que "para além do facto de na verdade esta idéia não ter funcionado nesses dois países, em caso algum será aplicado no que concerne a Angola".

Angola possui um dos maiores e mais experientes exércitos do continente africano e "por várias vezes realizou intervenções nos dois países vizinhos: a República Democrática do Congo e o Congo-Brazaville. E Angola está também em conflito com esses dois países para a delimitação das águas territoriais".

O jornal recorda que "lá, onde estão as maiores reservas de petróleo off-shore, uma faixa costeira de 20 quilómetros, pertence ao Congo Democrático e separa o território angolano do exclave angolano de Cabinda. Por seu lado, o Congo-Brazaville reclama há anos um aumento da superfície das suas águas territoriais".

"Nesse contexto", sublinha o quotidiano, a venda de barcos de patrulha à marinha angolana é um projeto ultra-sensível".

Num artigo do quotidiano económico Handelsblatt, o chefe da publicação do semanário Die Zeit, Josef Joffe, lembrou que a "Alemanha, defensora intransigente da paz" é o terceiro exportador mundial de armas e "não importa quem dirige o governo, o SPD ou a CDU da senhora Merkel".

E o artigo faz referencia às vendas de armamento a Singapura, aos Emiratos Árabes Unidos, à Arábia Saudita, ao Qatar.....

Aproveitamos para lembrar que a polémica começou no início deste mês de julho com o anúncio pela imprensa alemã de uma iminente venda de 200 carros de combate Leopard 2 à Arábia Saudita.

73% dos alemães são contra, segundo uma sondagem do instituto Forsa publicada na semana passada pelo semanário Stern.

NO FLASH Merkel will Patrouillenboote an Angola liefern
Angola quer comprar barcos de patrulha alemães para controlar as suas fronteiras marítimas, segundo LuandaFoto: picture alliance/dpa

Autor: António Rocha
Edição: Cristina Krippahl