Antigos trabalhadores da África Têxtil querem processar Estado de Angola
10 de setembro de 2013
Enquanto o Governo angolano aplica 480 milhões de dólares (mais de 360 milhões de euros), por via de um financiamento do Japão, para o relançamento da África Têxtil, os antigos trabalhadores reivindicam os seus direitos.
“Pedimos ao nosso Governo para que olhe para os trabalhadores da empresa África Têxtil que, neste momento, está a ser reabilitada, e que olhe para a questão dos trabalhadores abandonados e resolva os problemas dos salários em atraso e indemnizações”, apela um antigo funcionário da fábrica de tecidos.
Localizada na província de Benguela (oeste de Angola), a África Têxtil foi inaugurada em 1974 e fechou portas em 1999. Os mais de 400 trabalhadores continuam, desde essa altura, a reivindicar ordenados e indeminizações em atraso.
Até agora, o governo angolano não fez mais que promessas para resolver a situação. Mas a Comissão Sindical dos Trabalhadores da antiga empresa continua sem ver qualquer resultado.
“A Comissão Sindical, junto das entidades competentes, tem sempre feito todo o esfoço para se repor a legalidade salarial, as indemnizações e a reforma. Mas o ministério da tutela apenas promete, não faz. Por exemplo, neste preciso momento estão em curso vários contactos com deputados da Assembleia Nacional, mas até aqui só nos prometem, de ano a ano, de mês a mês”, lamenta Rogério Cabral, presidente da Comissão Sindical dos Trabalhadores.
Agora, os antigos trabalhadores da fábrica de tecidos pretendem levar o Estado angolano a tribunal, caso a situação não seja resolvida ainda este ano.
A vida dos antigos trabalhadores degrada-se
A situação tem estado a gerar muito descontentamento e problemas socias entre os antigos trabalhadores e suas famílias.
António Manuel Cidade, na casa dos 70 anos de idade, começou a trabalhar na África Têxtil em 1977, onde permaneceu até a data da paralisação em 1999. Cansado das promessas do Governo angolano, Manuel Cidade assiste à degradação da vida dos seus antigos colegas de trabalho.
“Pela palavra do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, o partido no poder) diz-se que o mais importante é resolver os problemas do povo, mas no fundo estamos a ver que o mais importante é afundar este ou aquele cidadão. Temos colegas que estão a morrer porque não têm por onde pegar. Estamos cansados de promessas”, afirma António Manuel Cidade.
África Têxtil deve voltar a laborar em 2014
A fábrica de tecidos de Benguela, que está a ser reabilitada, através de um crédito japonês concedido ao Estado angolano, deverá voltar a entrar em funcionamento em 2014.
No entanto, circulam informações, não confirmadas oficialmente, que apontam que após a conclusão das obras a fábrica possa ser privatizada a favor de empresas alegadamente ligadas a generais próximos do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
O relançamento da África Têxtil faz parte de um programa mais amplo que visa relançar o sector industrial têxtil no país, que inclui as empresas Textang, em Luanda, e a Satec, na província do Kuanza Norte.
Citado pela Angop, a agência estatal angolana de notícias, o secretário de Estado da Indústria, Paulo Caita, fez saber que, quando a África Têxtil começar a funcionar, no próximo ano, poderá criar 900 novos postos de trabalho.
Isto numa altura em que os antigos trabalhadores vêm apelando para que, mais do que reabilitar a África Têxtil, o governo deve olhar para a situação dos antigos trabalhadores que se sentem abandonados.