As pequenas conquistas dos homossexuais no Uganda
26 de outubro de 2013Numa pensão no subúrbio de Kampala, um jovem desenrola um tapete com as cores do arco-íris – símbolo do movimento gay e lésbico. Os homossexuais preparam um desfile para celebrar a diversidade em África, na capital do Uganda.
O Uganda tem uma das leis mais hostis do mundo em relação aos homossexuais, por isso, o que eles fazem aqui, pode colocá-los na cadeia.
Temeroso, o voluntário quer permanecer anónimo. "Você pode tentar se proteger tanto quanto você quiser. Você nunca sabe o que alguém está dizendo à mídia ou o que poderia talvez postar no Facebook," afirma.
Linha dura para os homossexuais
Entre os que não devem ter notícias sobre os preparativos do chamado Orgulho Gay está a parlamentar ugandesa Christine Abia. Atualmente, até 14 anos de prisão já ameaçam os homossexuais no Uganda. Há alguns anos, o Parlamento debate as possibilidades de agravar ainda mais as penas. Alguns exigem até mesmo a pena de morte.
A este respeito, Christina Abia adota uma postura de linha dura. Ela compara os homossexuais aos animais: "Até mesmo os animais, bestas, não se degeneraram tanto! Como é possível que pessoas com consciência então desorientem a si mesmas fisiologicamente?".
A sexualidade como um direito humano? Para a parlamentar, isso não existe. "Se pretende que isso seja um direito humano. Não! Pelo amor de Deus, isso é um erro humano," considera.
Difícil imaginar, mas Christine Abia fez seu nome como vigorosa defensora dos direitos das mulheres perante representantes de muitas organizações ocidentais. Seus pontos de vista sobre os homossexuais não se encaixam nessa imagem de ativista dos direitos humanos.
"A única coisa que se pode fazer com os homossexuais é jogá-los na água e deixar que bons peixes os comam," conclui a parlamentar.
Retaliações constantes
Richard Lusimbo, de 27 anos, é um dos que Christine Abia quer jogar como alimento aos peixes. O jovem ugandês pertence ao comitée que prepara o Orgulho Gay. Há dois anos, ele assumiu a sua homossexualidade. Desde então, teve que se mudar várias vezes – por causa de ameaças constantes.
Enquanto lava as louças em seu novo pequeno apartamento nos arredores de Kampala, o jovem revela seus planos para construir uma nova vida. Ele se pergunta: "O que aconteceu? Não sou diferente, mas porque as pessoas me tratariam de forma diferente agora ou pensariam que sou diferente, só porque agora sabem que eu sou gay? Isso realmente dói muito."
A homossexualidade ainda é um tabu no Uganda e o jovem acha difícil uma mudança de hábitos a curto prazo. "No Uganda, fala-se sobre sexo a portas fechadas. Essa é a diferença com o Ocidente onde você pode se manifestar nas ruas. É muito difícil fazer isso aqui," garante.
Mesmo assim, Richard se empenha na preparação do Orgulho Gay. O ponto mais alto será um desfile na praia de Entebbe, a cerca de 40 quilómetros de Kampala. Até recentemente, o especialista em computadores não teria coragem de ir às ruas lutar por seus direitos. Dois anos atrás, David Kato, um conhecido ativista gay foi assassinado em Kampala.
Jornalismo anti-gay
No início deste ano, também Richard teve que se esconder depois que um jornal publicou um artigo incitando os leitores contra ele. Entre as informações divulgadas estão o endereço de sua casa e os locais de estudo e trabalho de Richard.
"Então foi ameaçador, porque com seu endereço publicado, você não sabe o que pode te acontecer. Foi realmente assustador. Por isso, tive que ir embora," revela o ativista.
Repetidamente os tablóides no Uganda difamam lésbicas e gays, publicam até mesmo seus endereços. O radialista Charles Odongtho é um dos poucos apresentadores que já entrevistou um homossexual em seu programa – o que lhe trouxe enormes problemas.
Mas ele não é um defensor dos direitos dos homossexuais. Charles Odengtho acredita que por trás do movimento de gays e lésbicas no Uganda estão, com frequência, interesses muito diferentes.
"Acho que alguns ugandeses usam a homossexualidade para conseguir um visto para sair do país. Talvez eles acreditem que se forem para os Estados Unidos ou para a Europa terão melhores oportunidades," declara o radialista.
O argumento de que os homossexuais desejam benefícios financeiros ou asilo no estrangeiro, Richard Lusimbo já não quer ouvir. Apesar de todos os problemas, ele mesmo nunca pensou em deixar o Uganda.
Pequenos passos de uma longa jornada
Na manhã seguinte, os ativistas encontram-se no Teatro Nacional, em Kampala, e partem de ônibus para a praia de Entebbe onde terá início o desfile.
No embarque, as pulseiras dos participantes são minuciosamente controladas – por razões de segurança. No passado, muitos ativistas foram agredidos e abusados por grupos enfurecidos – alguns chegaram a ser presos. Isso ninguém quer experimentar novamente.
Na chegada a Entebbe, finalmente encontram-se com Richard Lusimbo que se atrasou porque teve uma conversa com o chefe da polícia local. Este insistiu para que o desfile do Orgulho Gay passe longe de ruas movimentadas. Caso contrário, eles seriam presos. Foi preciso pagar subornos? Richard prefere não comentar.
Por muito tempo os ativistas esperavam por este momento. No ano passado, a polícia pôs fim ao desfile do Orgulho Gay antes mesmo que ele começasse. Este ano, gays, lésbicas e transexuais marcharam sem perturbações, por meia hora, pela praia de Entebbe. Eles dançaram e balaçaram bandeiras e balões coloridos.
Richard já sonha com um outro Uganda. Uma sociedade livre na qual gays, lésbicas e todos os outros possam viver juntos pacificamente.
Mesmo que ainda haja um longo caminho a percorrer, os ativistas acreditam estar um pouco mais perto da convivência com tolerância. E talvez marcharão não na isolada praia de Entebbe, mas pelo centro de Kampala.