Cabo Delgado: "Insurgentes estão a ser mais atrevidos"
23 de março de 2020Homens armados atacaram a vila de Mocímboa da Praia por volta das 04h30 desta segunda-feira (23.03). Segundo o Comando Geral da Polícia, os "malfeitores atacaram inclusive o quartel das Forças de Defesa e Segurança, criaram barricadas nas principais entradas daquela vila e içaram [uma] bandeira".
Durante a tarde, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, garantiu que as forças de segurança estavam a fazer tudo ao seu alcance para restabelecer a ordem.
"Continuamos a travar combates com os malfeitores na vila sede de Mocímboa da Praia", afirmou.
"As coisas ficam cada vez mais complicadas"
Informações provenientes de Mocímboa da Praia indicam que a vila despertou esta segunda-feira num ambiente de terror e medo. Algumas pessoas teriam conseguido abandonar a vila, mas outras viram-se obrigadas a ficar em casa.
Os ataques na província de Cabo Delgado duram desde outubro de 2017. Mais de 300 pessoas morreram e dezenas de milhares foram afetadas pela violência.
Para o analista Alexandre Chiure, a situação é bastante alarmante: "A cada dia que passa, as coisas ficam cada vez mais complicadas."
"Cabo Delgado tem 16 distritos e a informação que nós temos é que nove desses distritos já estão afetados por esses ataques. É uma situação cuja solução não está à vista", afirma Chiure em entrevista à DW África.
Insurgentes "mais atrevidos"
O analista destaca o empenho pessoal do Presidente Filipe Nyusi na procura de uma solução para o problema, incluindo as deslocações ao terreno das operações com vista a moralizar as forças governamentais. Por diversas vezes, Nyusi já veio a público manifestar disponibilidade para dialogar com o grupo de atacantes, até ao momento sem rosto.
Mas, segundo Alexandre Chiure, é preocupante que os atacantes estejam a ficar "um pouco mais atrevidos".
"Antes, os insurgentes atacavam nas aldeias recônditas, mas desta vez atacaram a vila de Mocímboa da Praia", diz.
Mocímboa da Praia fica a 90 quilómetros a sul de Palma, distrito onde estão a ser construídos megaprojetos internacionais de exploração de gás natural.
O comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, deixou esta segunda-feira um apelo: "Pedimos à população da vila sede de Mocímboa da Praia para se manter calma e ademais ser muito vigilante, pois os malfeitores podem querer misturar-se com a população e fazer mal à mesma."
"Trágico fracasso"
O diretor-adjunto da Amnistia Internacional, Muleya Mwananyanda, classificou a escalada da violência em Mocímboa da Praia como “o culminar de um trágico fracasso do Governo moçambicano” na tentativa de proteger o povo da região. Uma nota da organização destaca os três anos de “sofrimento humano incalculável” da população.
Mwananyanda considera que os ataques contínuos são agravados pelo fato do governo “proibir jornalistas, investigadores e observadores estrangeiros de acederem à área para avaliar a situação”. O diretor da Anistia pede medidas imediatas e eficazes para proteger as pessoas, reforço das medidas de segurança legais e a realização de investigações para levar os suspeitos à justiça".