Ataques em Moçambique: Zimbabué, ONU e UE oferecem ajuda
12 de novembro de 2020A Organização das Nações Unidas (ONU) está disponível para ajudar Moçambique na investigação de suspeitas de alegados massacres no norte do país, perpetrados por grupos jihadistas. Mas a iniciativa de investigação e pedido de ajuda tem de partir do Governo de Moçambique, disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.
"É responsabilidade das autoridades nacionais investigar o incidente. Elas têm as principais responsabilidades, tal como a responsabilidade de proteger os seus cidadãos, como qualquer Estado-membro", declarou Dujarric durante uma conferência de imprensa em Nova Iorque.
António Guterres mostrou-se "chocado" com os "recentes relatos de massacres perpetrados por grupos armados não estatais em várias aldeias na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, incluindo a decapitação e rapto de mulheres e crianças".
Segundo Stephane Dujarric, a ONU tem "informações de fontes no terreno" e acrescentou que a equipa em Moçambique está "muito atenta à situação" de múltiplos ataques na província de Cabo Delgado, apesar de não ter ainda dados concretos sobre vítimas.
Zimbabué pronto para ajudar
Também o Presidente do Zimbabué disse que o país está pronto para ajudar Moçambique a combater os ataques terroristas no norte do país vizinho, defendendo que a segurança deve ser prioritária para a região.
"O Zimbabué está pronto para ajudar de qualquer maneira que consigamos, a segurança da nossa região é a principal prioridade na proteção do nosso povo", escreveu Emmerson Mnangagwa na rede social Twitter, acrescentando que "os atos de barbaridade têm de ser eliminados onde quer que sejam encontrados".
O comentário do Presidente do Zimbabué, que faz fronteira com Moçambique, surge depois de várias notícias sobre atos de violência cometidos nos últimos dias e no mesmo dia em que o ministro da Defesa disse que Moçambique estava a pedir ajuda a vários países, após a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) ter falhado na formulação de uma proposta sobre como combater a insurgência.
"É do nosso interesse que a SADC aja rapidamente para lidar com a situação", disse o ministro Oppah Muchinguri-Kashiri, em declarações ao jornal estatal Herald.
Apoio da UE e da Commonwealth
O Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros anunciou esta quarta-feira (11.11) que Bruxelas vai "redobrar os esforços" para apoiar a segurança em Moçambique, em regiões importantes de segurança e de estabilidade", escreveu Josep Borrell no Twitter.
A Commonwealth também condenou os massacres reportados nos últimos dias em Cabo Delgado e anunciou, em comunicado, que "está pronta para fornecer todo o apoio" que puder a Moçambique para combater o "extremismo violento".
"Condeno esses ataques horríveis e brutais a civis inocentes e exorto a que uma investigação seja realizada e os seus autores responsabilizados", disse a secretária-geral da organização, Patricia Scotland.
"Os ataques e relatos de sequestros de mulheres, jovens e crianças são uma afronta aos princípios fundamentais dos direitos humanos. A Commonwealth e todos os Estados-membros solidarizam-se com as pessoas afetadas e suas famílias", lê-se ainda no documento.
Parlamento vota resolução sobre Cabo Delgado
Até ao momento, as autoridades moçambicanas ainda não se pronunciaram sobre os alegados massacres. O conflito armado em Cabo Delgado volta esta quinta-feira (12.11) a estar em debate no Parlamento, em Maputo, com a análise de um relatório sobre a situação dos direitos humanos na província.
Será também votada uma resolução sobre o tema, numa altura em que o conflito tem sido motivo de atenção a nível internacional devido a relatos de massacres cometidos por rebeldes, parte das quais alegadamente por decapitação.
O relatório que os deputados vão debater foi produzido por uma comissão parlamentar que ouviu as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas descrevem a situação como "grave", assinalando que o porto e o aeroporto da vila de Mocímboa da Praia continuam nas mãos dos grupos armados.
A província de Cabo Delgado é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas e que se intensificaram este ano. Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de 1.000 a 2.000 vítimas. Segundo dados oficiais, há, pelo menos, 435 mil deslocados internos.