Aumenta violência doméstica contra mulheres moçambicanas
23 de dezembro de 2013No Niassa, estima-se que mais de mil mulheres sofreram algum tipo de violência doméstica este ano, contra mais de 500 do ano passado. Este número pode estar muito abaixo da realidade, pois a maior parte das vítimas prefere o silêncio ao invés da denúncia.
Por outro lado, a sociedade destaca na sua abordagem a violência física, deixando de lado outro tipo de agressões. “Estes dados deixam-nos preocupados porque a situação tende a agravar-se nos casos de violência física”, afirma Rosário Zacarias, diretor provincial da Mulher e Acção Social no Niassa.
Segundo o responsável, a maior parte das pessoas prefere ficar calada por ter complexos e nunca aparece em palestras sobre o tema para dar o seu testemunho e incentivar outras vítimas de violência a denunciar casos semelhantes.
Crenças e práticas discriminatórias
A prevalência da superiorização masculina na sociedade moçambicana, resultante de crenças e práticas discriminatórias da mulher, concorre para este problema.
Ania Vascolêncio é disso exemplo. O seu marido não a deixa estudar e ela simplesmente conforma-se. “Nós, como mulheres, devemos cuidar dos filhos e ser diferentes dos homens. Eu compreendo”, confessa.
Segundo a coordenadora do Fórum das Organizações Femininas do Niassa, Manuela Teixeira, este relato só vem confirmar as dificuldades pelas quais as mulheres passam no país. “Há mulheres que querem estudar, mas não podem porque os seus maridos não as deixam frequentar a escola.
Para além da violência psicológica, há também casos de violência física, de muitas mulheres que sofrem ferimentos causados pelos esposos. “São casos muitos graves e há necessidade de intervenção não só do Governo, mas também da própria sociedade, de modo a reduzir os casos de violência contra as mulheres”, defende Manuela Teixeira.
Consequências incalculáveis
As consequências da violência doméstica podem ser incalculáveis. A gestora do centro infantil da cidade de Lichinga, Lúcia Mulémbwè, fala de alterações no comportamento de algumas crianças.
“É possível ver um comportamento agressivo ou de timidez de uma criança no centro infantil", sobretudo quando a criança "vê aquelas pessoas que lhe fizeram mal perto dela", conta a gestora. "Passa a ser um ambiente difícil de entender”, afirma.
Por isso, os responsáveis do centro infantil costumam falar com os pais dessas crianças para ver se conseguem “corrigir o comportamento da criança o mais cedo possível”, explica Lúcia Mulémbwè.
O Gabinete de Atendimento à Mulher e Criança Vítimas de Violência não mede esforços para pôr termo a este cenário. A chefe deste organismo, Helena Cazule, avança que este ano foram condenados 52 homens por envolvimento em actos de violência contra mulheres. “A violência doméstica não está só nas camadas sociais muito baixas”, sublinha Helena Cazule, acrescentando que entre os mais violentos estão até os académicos.
Além de detenções, outros casos de violência resultaram em divórcios por iniciativa das próprias vítimas.