Autárquicas: RENAMO alerta para risco de "paralisação geral"
27 de outubro de 2023"Os polícias devem parar de ajudar um ditador. Não há motivos para o que está a acontecer. Porque depois disto, o que pode acontecer é decretarmos uma greve geral para paralisar o país", disse à comunicação social António Muchanga, candidato da RENAMO nas eleições autárquicas no município da Matola, algumas horas após a Polícia da República de Moçambique (PRM) disparar gás lacrimogéneo contra milhares de pessoas que se manifestaram em Maputo contra os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
PRM justifica ação policial
Os manifestantes participavam numa marcha convocada pelo cabeça de lista da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, maior partido da oposição) à autarquia de Maputo, Venâncio Mondlane, que reclama ter vencido aquela eleição, em 11 de outubro. Tentaram seguir, na Avenida 24 de Julho, quando a confusão começou.
Em conferência de imprensa, a Polícia da República de Moçambique (PRM) justificou a sua resposta com a necessidade de manter a "ordem e tranquilidade públicas", afirmando que os manifestantes atiraram objetos contundentes e vandalizaram infraestruturas.
"A polícia alerta que não irá tolerar atos subversivos, com enfoque ao vandalismo, violência e desordem pública generalizadas e, sempre que for necessário e justificável, a polícia tomará todas as medidas coercivas, sempre alicerçadas nos princípios de legalidade e proporcionalidade", disse Orlando Modumane, porta-voz do Comando Geral da PRM.
"Não nos empurrem para a guerra"
Para António Muchanga, a atuação da polícia moçambicana pode empurrar a RENAMO para uma nova "guerra".
"Não nos empurrem para a guerra. Dispararam ali contra nós, mas no final do dia voltam para casa nos nossos bairros. Não queremos chegar a isso", frisou Muchanga, também deputado da RENAMO na Assembleia da República.
A marcha, que tinha como destino as instalações do Conselho Constitucional em Maputo, foi travada com o posicionamento de vários veículos blindados da polícia e depois pelo lançamento de gás lacrimogéneo, ao que os manifestantes responderam com o arremesso de pedras.
Venâncio Mondlane, candidato da RENAMO na cidade de Maputo, que também contestou os resultados apresentados pela Comissão de Eleições na quinta-feira, nos quais Razaque Manhique foi anunciado como vencedor das eleições autárquicas na capital, com 58,78%, ameaçou, por seu turno, com "um boicote às receitas fiscais".
"Aquela decisão é um rascunho e é pior que papel higiénico. Não vale absolutamente nada. Na cidade de Maputo, nós vamos fazer um boicote às receitas fiscais. Não vamos pagar nada", declarou à imprensa Venâncio Mondlane, enquanto liderava a marcha, momentos antes da confusão se instalar na Avenida 24 de Julho.
De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados do escrutínio ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial.