Cabo Delgado: "As forças de defesa têm que ter mais cuidado"
27 de maio de 2020Na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, as denúncias do uso excessivo de força por parte das Forças de Defesa e Segurança (FDS) são cada vez mais frequentes. O bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, confirma que houve queixas e esclarece que tal aconteceu devido à denúncia da suposta presença de insurgentes infiltrados entre os deslocados internos, o que terá levado as autoridades a recorrerem à violência.
"Num determinado momento, chegaram muitas pessoas a Pemba. Falava-se que, junto com essas pessoas, com esses deslocados, poderiam estar pessoas infiltradas", afirma em entrevista à DW África.
"A polícia foi um pouco ativa, um pouco agressiva no início, mas isso já foi denunciado. Eu penso que as FDS têm que ter mais cuidado, porque devem defender a população", acrescenta.
Dom Luiz Fernando Lisboa pede que as FDS "cumpram bem o seu papel para que a população acredite e confie" nelas. "Penso que certamente já foram chamados à atenção aqueles que ultrapassaram os limites, pois isso não pode acontecer", diz.
Sobre uma melhor resposta à ação insurgente na província, que já começa a ser realidade no terreno graças ao apoio de mercenários estrangeiros, o bispo de Pemba afirma: "Nós sempre defendemos que precisamos de ajuda".
"As Forças de Defesa e Segurança, por muito tempo, trabalharam sozinhas e não estavam conseguindo dar conta da situação. Nós não sabemos exatamente quem está, porque nós não estamos lá no campo de batalha", sublinha. "Nós sabemos que as FDS estão a atuar e a aumentar os seus efetivos. Antes, atacavam cada vez numa aldeia e agora, como eu disse, atacam simultaneamente."
Por este motivo, o bispo de Pemba diz que "toda a ajuda que for possível" é bem-vinda. "Se não conseguirmos sozinhos, com a ajuda, quem sabe, somos mais capazes", afirma.
Atacantes "mudaram de tática"
Apesar de duas missões da Igreja Católica terem sido atacadas pelos insurgentes em Cabo Delgado em menos de dois meses, dom Luiz Fernando Lisboa já descartou um ataque premeditado à Igreja Católica.
"Quando eles atacam, atacam sempre outras casas, comércio, etc. Não sei se sabiam que ali havia uma missão católica", afirmou.
O bispo de Pemba denuncia que os atacantes mudaram de tática, passando a atacar as aldeias simultaneamente. "Acaba por ficar muito mais difícil. Agora, há uma forte crise humanitária: há fome, porque são mais de 200 mil deslocados", alertou.
"Muitas pessoas saem de casa sem nada ou com poucos pertences. Chegam sem comida. E atender a todas essas pessoas, nesta situação, não é uma tarefa fácil", acrescentou.