CEDEAO faz ultimato ao Governo de Faustino Imbali
6 de novembro de 2019A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) fez esta terça-feira (06.11) um "último apelo" ao Governo de Faustino Imbali, nomeado na semana passada pelo Presidente cessante, José Mário Vaz.
A organização pede "a todos os que, de forma abusiva, integram o Governo ilegal de Faustino Imbali para que se demitam e se distanciem de qualquer iniciativa que possa comprometer o processo das eleições presidenciais, confiado às instituições legais".
A CEDEAO não reconhece a decisão do Presidente cessante de exonerar o Governo de Aristides Gomes, que saiu das legislativas de março, e nomear um novo Executivo, porque o mandato de José Mário Vaz já terminou. A organização ameaçou na semana passada com sanções.
A DW África tentou obter uma reação da Presidência e do primeiro-ministro, Faustino Imbali, sem sucesso. O Presidente cessante deverá fazer esta quarta-feira uma passeata nas ruas de Bissau, no âmbito da campanha eleitoral.
As eleições presidenciais estão marcadas para 24 de novembro, e o país continua com dois primeiros-ministros e dois Governos.
Tensão política aumenta
O ultimato da CEDEAO surge numa altura em que aumenta a tensão política na Guiné-Bissau, com a força militar da organização, a Ecomib, a proteger as principais instituições da República, altas figuras da nação e alguns candidatos presidenciais.
Durante dois dias, o Presidente José Mário Vaz reuniu-se com chefias militares e chefes das corporações das forças de segurança para fazer valer o decreto que exonerou o Governo de Aristides Gomes e o decreto de nomeação de Faustino Imbali.
Esta terça-feira, o Conselho Superior da Defesa Nacional "aconselhou o Presidente da República, na veste de Comandante Supremo das Forçar Amadas, para instruir a força conjunta, nomeadamente as forças de segurança, no sentido de facilitar o acesso dos membros do Governo aos respetivos departamentos governamentais", refere-se num comunicado.
"Grave atentado ao clima de paz e estabilidade"
O primeiro-ministro Aristides Gomes reuniu o Conselho de Ministros no palácio do Governo, sob fortes medidas de segurança.
No final, o porta-voz do Executivo, Armando Mango, ao ler o comunicado governamental, acusou o Presidente cessante e candidato às presidenciais, José Mário Vaz, de tentar efetivar um golpe de Estado.
O Governo de Aristides Gomes condenou "com veemência, a convocação da pretensa reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional pelo candidato José Mário Vaz, nos moldes em que o fez e num momento em que decorre a campanha eleitoral com vista às eleições presidenciais de 24 de novembro corrente."
"Este facto configura um grave atentado ao clima de paz e estabilidade reinantes no país e confirma a tese de tentativa de golpe de Estado, denunciado, em tempo útil, pelo primeiro-ministro", afirmou o porta-voz. Denunciou ainda a tentativa do Presidente cessante de impor, a todo custo, um Governo "inconstitucional" e "ilegal" por ele instituído, algo que foi condenado por toda a comunidade internacional.
Acusações de ingerência
Entretanto, o candidato do líder da oposição guineense, o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), acusa a CEDEAO de ingerência nos assuntos internos da Guiné-Bissau.
Umaro Sissoco Embaló disse que a comunidade internacional está a ser manipulada: "Sabemos sempre que a comunidade internacional faz erros de avaliação. Cometeram erros na Líbia, Somália, Iraque e noutros países. Estão a fazer a mesma coisa na Guiné-Bissau. Estou muito magoado e triste", disse.
Em Bissau, reina a incerteza sobre o que pode acontecer nas próximas horas, com muita movimentação militar nas principais avenidas.
A CEDEAO convocou para sexta-feira (08.11) uma cimeira extraordinária sobre a crise política na Guiné-Bissau, para Niamey, no Níger.