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Bruxelas prepara-se para receber cimeira UE-África

Daniel Pelz | bd
15 de fevereiro de 2022

Começa na próxima quinta-feira a cimeira Europa-África, que quer modernizar a parceria entre os dois continentes. UE promete mobilizar cerca de 150 mil milhões de euros para implementar plano de investimento em África.

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Ursula von der Leyen reuniu-se com o Presidente do Senegal, Macky Sall, na semana passada para preparar cimeira UE-África
Ursula von der Leyen reuniu-se com o Presidente do Senegal, Macky Sall, na semana passada para preparar cimeira UE-África Foto: Seyllou/Getty Images/AFP

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está otimista que a cimeira servirá para reforçar a cooperação entre os dois continentes. "Preparámos conjuntamente a cimeira de Bruxelas. As nossas duas Uniões partilham a mesma visão: a visão de um espaço comum de estabilidade e prosperidade. Esta cimeira deve identificar formas e meios concretos de o conseguir", afirmou.

Três dias antes da cimeira, o departamento das parcerias internacionais reivindicou o papel da União Europeia (UE) como principal parceiro dos países africanos contra a China e a Rússia. 

A comissária Jutta Urpilainen lembrou que a China tem uma estratégia própria para o continente africano e que a Rússia está "muito ativa" no Mali e no Sahel, adiantando que até os Estados Unidos vão organizar "a sua própria cimeira" com África. A comissária diz diz que a UE não está atrasada e prova disso é que é um parceiro "exportador e dominante" para os países africanos.

"Muita frustração" em África

Mas as relações com a União Africana (UA) têm estado em crise há já algum tempo. A cimeira UE-UA foi cancelada em 2020, oficialmente por causa da pandemia de Covid-19, embora alguns observadores acreditem que foi mais um mero cancelamento. "Foi também um sinal político", disse à DW Niels Keijzer, do Instituto Alemão de Desenvolvimento.

Carlos Lopes: "Ainda vivemos um modelo colonial"
Carlos Lopes: "Ainda vivemos um modelo colonial"Foto: DW/B. Darame

Um sinal vindo especialmente de África, porque a lista de desentendimentos tem vindo a aumentar cada vez mais nos últimos anos. Para Carlos Lopes, economista e professor universitário na África do Sul, há muita frustração a pressionar África a procurar novas parcerias que ajudem a industrializar o continente.

Carlos Lopes deu como exemplos a China, a Rússia ou a Turquia, que expandiram a sua influência no continente e critica o modelo da parceira com a UE. "O que ainda vivemos é um modelo colonial, onde a África é um exportador de mercadorias que não são transformadas, o valor acrescentado é muito baixo e o que estamos a ver nas discussões, por exemplo, sobre o Acordo Verde Europeu irá perpetuar ainda mais essa situação", afirma.

Pontos de discórdia

Niels Keijzer, do Instituto Alemão de Desenvolvimento, prevê o que poderá ser ponto de discórdia na cimeira: "Os países africanos e a UA preferiam implementar as políticas que já estão em vigor, enquanto a UE deu mais atenção ao desenvolvimento de novos planos e políticas. Isto tem por vezes conduzido a tensões nas relações", lembra.

A crise nas relações entre dois continentes foi agravada pela pandemia de Covid-19. Muitos chefes de Estado Africanos insurgiram-se contra a forma como a África foi penalizada na distribuição das vacinas. Atualmente, apenas 1% das vacinas administradas são fabricadas em países africanos e o projeto, embora aberto ao resto, envolve Senegal, África do Sul, Ruanda e Gana.

No entanto, a cimeira poderia ajudar a resolver pelo menos este problema, diz Carlos Lopes: "Os interesses de África incluem um acordo sobre produção de vacinas, para um melhor acesso às vacinas e uma estrutura comum de parceria. E neste momento parece que isso estará entre os resultados da cimeira."

Estão previstos 125 milhões de euros para ajudar a UA a atingir a meta de produzir 60% das vacinas que serão utilizadas no continente até 2040.

Os recursos financeiros que a Europa irá disponibilizar serão canalizados através de cinco pilares fundamentais, que são a promoção das transições "gémeas" verde e digital, a aceleração do crescimento económico e a criação de empregos, a melhoria da educação e formação ou o reforço dos sistemas financeiros. África precisa de formar 19 milhões de professores até 2030.

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