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Burundi "não está preparado" para eleições democráticas

26 de junho de 2015

Em entrevista à DW África, o segundo vice-presidente do Burundi, em fuga, diz que não estão reunidas as condições para uma votação realmente democrática. A oposição anunciou que vai boicotar as eleições de segunda-feira.

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Gervais Rufyikiri, segundo vice-presidente do BurundiFoto: Getty Images/AFP/F. Coffrini

Pelo menos, cinco pessoas morreram e várias ficaram feridas num ataque com granada na capital do Burundi, Bujumbura, esta quinta-feira, segundo a polícia. Faltam poucos dias para as eleições legislativas, previstas para segunda-feira (29.06), e o clima continua extremamente tenso no país.

Um dos vice-presidentes fugiu do Burundi, refugiando-se na Bélgica. Gervais Rufyikiri diz ter sido ameaçado depois de se opor à recandidatura do atual chefe de Estado, Pierre Nkurunziza.

"Depois de eu e os meus colegas do Comité de Sábios expressarmos claramente a nossa opinião sobre o terceiro mandato do Presidente, fomos excluídos das deliberações. Também recebemos ameaças físicas", afirma em entrevista à DW África. "Não quero mencionar nomes, mas tenho informações suficientes que confirmam que eu deixei de estar seguro."

A acusação é negada pelo Governo, que reagiu à fuga de Rufyikiri acusando-o de estar envolvido na fracassada tentativa de golpe de Estado, a 13 de maio.

nach Putschversuch - Präsident Pierre Nkurunziza zurück im Amt
Presidente do Burundi, Pierre NkurunzizaFoto: Reuters/G. Tomasevic

O vice-presidente do Burundi nega e, interrogado sobre os motivos que levaram ao fracasso da tentativa de golpe, indica que "há sinais de que o exército não está unido".

"Não sei as razões para o fracasso do golpe de Estado, mas eu atribuiria o fracasso à fraca estrutura da organização", comenta Gervais Rufyikiri.

Boicote a eleições

Bujumbura tem sido palco de protestos violentos desde o final de abril. Apesar da oposição, o Presidente não retira a candidatura a um terceiro mandato. Rufyikiri diz que não podia continuar a compactuar com a situação.

Quanto às eleições de segunda-feira, o vice-presidente é claro: o país não está preparado para realizar um escrutínio verdadeiramente democrático.

"As eleições até podem ter lugar e ser reconhecidas, independentemente de quantas pessoas vão participar. Mas, para que eleições sejam descritas como democráticas, é preciso haver segurança, liberdade e transparência".

De acordo com o segundo vice-presidente do Burundi, para se poder falar em eleições democráticas é preciso que prevaleçam certas condições: "o retorno da paz e da segurança a todo o país, a possibilidade para os políticos de terem uma campanha eleitoral justa e o desarmamento das milícias. Os oposicionistas devem também ser capazes de restabelecer os seus partidos".

Proteste in Burundi
Protestos no BurundiFoto: AFP/Getty Images/C. de Souza

Entretanto, esta sexta-feira (26.06), um grupo de 17 partidos da oposição anunciou que vai boicotar as eleições, sublinhando que nem as legislativas, nem as presidenciais serão "credíveis".

Esta semana, segundo diplomatas, os mediadores internacionais pediram novamente o adiamento das eleições, sugerindo que tanto as eleições legislativas como as presidenciais, previstas para 15 de julho, sejam realizadas a 31 de julho - isso daria mais tempo a ambos os lados para resolver a crise atual antes que o mandato de Nkurunziza expire, a 26 de agosto. O Governo, no entanto, rejeita esta proposta.

Enfraquecimento do regime?

Rufyikiri não foi o único a sair do Burundi desde o final de abril, longe disso: altos funcionários, incluindo membros da Comissão Eleitoral e do Tribunal Constitucional, também fugiram do país, juntando-se a outras 127 mil pessoas que procuraram refúgio nos vizinhos Ruanda, Tanzânia e República Democrática do Congo.

Para o vice-presidente, o número de refugiados e os protestos que estão a acontecer mesmo no interior do país, fora de Bujumbura, são um sinal de que o regime está a enfraquecer.

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Na semana passada, o grupo de direitos humanos do Burundi APRODEH disse que, pelo menos, 70 pessoas foram mortas, 500 feridas e mais de mil detidas desde o final de abril. Teme-se que a violência desencadeie uma nova guerra civil no Burundi.

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