Cabo Delgado: Aumentam deslocados devido a confrontos
20 de agosto de 2024Residentes da sede distrital de Macomia, na província moçambicana de Cabo Delgado, alertaram hoje para o aumento do número de deslocados devido a confrontos intensos entre as forças estatais e ruandesas contra os terroristas nas matas de Mucojo.
"O fluxo da chegada das pessoas começou no sábado", disse à agência Lusa um residente da vila sede, localizada a 40 quilómetros das matas de Mucojo, onde os confrontos ocorrem com intensidade.
Uma fonte da força local deu conta que os confrontos entre a missão militar conjunta e os insurgentes começaram nos primeiros dias de agosto nas matas do posto administrativo de Mucojo, envolvendo helicópteros, blindados e homens armados, com relatos de tiroteios em locais considerados como esconderijos destes grupos.
"A ideia é desalojar os terroristas das suas posições", disse o membro da força local, constituída por antigos combatentes da luta de libertação nacional e que apoiam as autoridades no combate à insurgência. Os confrontos precipitaram a saída de alguns camponeses por medo, devido à intensidade dos bombardeamentos, sobretudo por acontecerem próximo às zonas agrícolas de Namigure e Nambine, onde alguns realizam atividades como desbravamento de matas, preparando a próxima época agrícola.
A população de outros distritos da província tem relatado a movimentação destes grupos de insurgentes, que provocam o pânico à sua passagem, nas matas, mas sem registo de confrontos. Tais movimentações acontecem numa altura em que os camponeses tentam realizar trabalhos de colheita nos campos de cultivo.
Desenvolver Cabo Delgado com o Fundo Soberano
O bispo de Pemba, capital de Cabo Delgado, alertou hoje que "seria uma grande injustiça" que os habitantes da província não beneficiassem dos seus vastos recursos naturais. António Juliasse, defensor de uma gestão com "ética e integridade" das receitas do Fundo Soberano de Moçambique (FSM), falava à comunicação social, após tomar posse como membro do Comité de Supervisão do FSM, em representação da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), organização de bispos católicos do país.
Apesar de defender que as zonas que detêm recursos naturais tirem vantagem dos mesmos, o bispo de Pemba assinalou que essa prioridade não deve ser foco de conflito no país, porque os ativos económicos pertencem a todos os moçambicanos. "O povo espera que a gestão do fundo soberano sirva para todo o povo moçambicano", afirmou.
António Juliasse elogiou, por outro lado, o facto de os nove membros do Comité de Supervisão do FSM terem sido escolhidos entre vários segmentos da sociedade, incluindo igrejas, academia, ordens profissionais, sociedade civil e organizações patronais. "A nossa missão é agir em favor do povo de Moçambique, sobretudo dos mais pobres", assumiu.
Por seu lado, a presidente da Assembleia da República, Esperança Bias, que conferiu posse aos membros do Comité de Supervisão do FSM, também defendeu a importância de uma gestão transparente das receitas geradas pelos recursos naturais em prol do desenvolvimento social e económico do país. "O Fundo Soberano de Moçambique é um instrumento de gestão sustentável dos recursos não renováveis, que, entre outros objetivos, deverá acumular poupanças para beneficiar as gerações presentes e futuras", destacou Esperança Bias.
No primeiro semestre do ano, o Estado moçambicano cobrou 114 milhões de dólares (103,3 milhões de euros) de receitas de exploração de petróleo e gás natural, aplicadas no novo FSM. O parlamento moçambicano aprovou, em 15 de dezembro, a criação do FSM com receitas da exploração de gás natural, que na década de 2040 deverão chegar a 6 mil milhões de dólares (5.500 milhões de euros) anuais.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.