Cabo Delgado: Movimentações militares continuam em Macomia
30 de maio de 2020Movimentações militares continuavam na manhã deste sábado (30.05) em Macomia, principal localidade do centro da província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, disseram à agência de notícias Lusa duas fontes, depois da ocupação da vila por um grupo armado na quinta-feira.
Elementos armados foram avistados na vila ao mesmo tempo que membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas pareciam alagar o perímetro controlado naquela zona, referiu uma das fontes, com base no testemunho de residentes escondidos no mato, este sábado.
Outra fonte relatou as mesmas movimentações, mas sem detalhes, e referiu que há falhas nas comunicações e no fornecimento de energia que se supõe estarem relacionadas com a destruição de infraestruturas.
Desde quinta-feira, ficou difícil acompanhar a evolução da situação porque as comunicações por telemóvel são várias vezes cortadas.
População em fuga
Durante os contactos mantidos pela Lusa e por outras fontes, foi relatada uma fuga generalizada da população da vila para o mato e outros locais, a exemplo do que relatou o bispo de Pemba, capital da província de Cabo Delgado. Luiz Lisboa disse à Lusa na sexta-feira que os padres e outro pessoal da paróquia da Igreja Católica em Macomia deixaram a vila para locais seguros.
Uma fonte do Ministério da Defesa Nacional moçambicano disse à Lusa que a situação em Macomia estava a ser analisada pelo comando conjunto das FDS, que é dirigido pelo Ministério do Interior, mas até agora ainda não foi prestada nenhuma informação pelas autoridades.
A vila de Macomia é o principal ponto de encontro a meio da estrada asfaltada que liga o norte ao sul da província, tem uma agência bancária, vários serviços, estabelecimentos comerciais e é sede de um distrito com cerca de 100 mil habitantes. Está situada a cerca de 200 quilómetros da capital provincial, Pemba.
Macomia foi há um ano a zona urbana mais atingida pelo ciclone Kenneth, um dos mais graves de sempre a atingir Moçambique, em abril de 2019, matando 45 pessoas no Norte do país.
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataques de grupos armados rebeldes desde outubro de 2017, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista. Desde há um ano o grupo 'jihadista' Estado Islâmico passou a reivindicar alguns dos ataques.
Em dois anos e meio de conflito estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 550 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.
O Governo moçambicano tem relatado algumas respostas pelas FDS contra os grupos armados, reiterando que está a reprimir a violência, mas a invasão e ocupação de povoações têm-se intensificado desde o início do ano.