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Nyusi na UE a fazer "eco" ao pedido de apoio do Ruanda?

7 de fevereiro de 2022

Filipe Nyusi foi à sede da UE apenas "rubricar" o apoio europeu à missão militar do Ruanda em Cabo Delgado, diz analista. Moçambique passa imagem de passividade num caso de soberania. Falta de liderança ou estratégia?

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Filipe Nyusi (esq.), Presidente de Moçambique, e Paul Kagame, Presidente do Ruanda

Depois da visita do chefe da diplomacia europeia, Joseph Borrell, a Moçambique ter falhado em finais de janeiro por causa da Covid-19, segundo a justificação do bloco europeu, agora o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, está em Bruxelas a convite da UE, até 9 de fevereiro. Como é habitual, não se conhecem os detalhes da sua agenda, mas sabe-se que o motivo da visita de Borrell era a insurgência em Cabo Delgado.

Para o analista alemão André Thomashausen, "o que deve estar na agenda é uma discussão do pedido do Ruanda à União Europeia (UE) para apoio financeiro para poder continuar a sua missão de apoio militar na defesa da segurança e no combate do terrorismo islâmico no norte de Moçambique, em Cabo Delgado".

O académico acredita que "esse pedido evidentemente tem a ver com os elevadíssimos custos dessa operação, estimados em mais ou menos um milhão de dólares por dia".

 Joseph Borrell
Joseph BorrellFoto: Imago Images/Seeliger

UE só quer o carimbo de Moçambique?

Em finais de janeiro, o Ruanda terá pedido apoio financeiro à UE, uma solicitação que poderá ser bem acolhida pelo grupo comunitário, considerando, por exemplo, os resultados significativos que a missão ruandesa vem obtendo no norte de Moçambique e a simpatia que os europeus nutrem por Paul Kagame. 

O suporte financeiro e não só pode significar o estreitamento de laços entre a UE e o Ruanda num assunto exclusivamente moçambicano. "Só que surpreende que não seja Moçambique a pedir esse apoio, mas o Ruanda diretamente", diz Thomashausen. 

O analista entende que "a UE provavelmente vai querer simplesmente de Filipe Nyusi uma confirmação de que tal apoio à missão do Ruanda será bem-vindo pelo Governo de Moçambique e que Moçambique gostaria de continuar com a presença dos soldados ruandeses dos cerca de 2.500 soldados ruandeses que protegem Afunge, zona de exploração de gás da Total Energies, que defende interesses franceses e por essa via consegue mobilizar apoios da UE".

Para Thomashausen, a opção feita por Nyusi a favor da militarização de Cabo Delgado, frequentemente referida como "iraquização", "tem claramente fracassado com a continuação e alargamento das operações dos insurgentes para as províncias de vizinhas de Cabo Delgado".

"Assim, a insistência numa estratégia já falhada, com um custo adicional operacional acumulado de cerca de 3 milhões de euros por dia, vai unicamente agravar o problema de Cabo Delgado. A disponibilidade da UE para sustentar financeiramente esta política é altamente duvidosa", crítica.

Moçambique a capitalizar lugar "privilegiado" do Ruanda?

Hoje, em África, o Ruanda é o "menino dos olhos bonitos" da UE. Por exemplo, o país de Paul Kagame é visto como um dos raros exemplos de desenvolvimento em África, acolhe multinacionais europeias como a fábrica automóvel alemã Volkswagen e dá um relevante contributo à ONU com capacetes azuis.

Estará Moçambique a capitalizar esse lugar "privilegiado" do Ruanda junto da UE para obter apoios mais substanciais? O especialista em relações internacionais e membro do maior partido da oposição, RENAMO, Manuel de Araújo opina: "Estaria bastante feliz se o meu país e o nosso Governo estivessem a capitalizar esta posição, mas infelizmente me parece que o nosso Governo nem sequer percebeu que é possível capitalizar, e isso deixa-me bastante triste. Moçambique não está a aproveitar este posicionamento de Kagame e muito menos este eixo Paris-Kigali."

Der deutsche Akademiker Andre Thomashausen
André Thomashausen, académico alemãoFoto: Privat

"Seria melhor Moçambique tomar uma posição de liderança"

Porém, esta imagem de auto-exclusão pública que Maputo deixa transparecer levanta questionamentos: porque Moçambique não assume a liderança dos seus próprios interesses e destino?

Thomashausen sugere que "seria mais aconselhável o país pedir diretamente as ajudas". Seria melhor que Moçambique tomasse "uma posição de liderança em relação ao combate do terrorismo, porque é uma questão de soberania, de Estado e segurança de Estado e do território, mas na realidade Moçambique não tem capacidade para manter a situação estável".

Assim, segundo o analista, para "evitar uma possível secessão, declaração de independência de Cabo Delgado, tipo república islâmica de Cabo Delgado", Moçambique "depende muito de países amigos como o Ruanda e a UE".

(Artigo atualizado às 15 horas do dia 8 de fevereiro de 2022)

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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