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Cabo Delgado: "Tudo o que salvar vidas é bem-vindo"

Leonel Matias (Maputo)
29 de abril de 2021

Políticos da oposição concordam com o envio de militares da SADC para Moçambique. Mas ressalvam que tudo deve ser feito dentro dos parâmetros internacionais, com transparência e o aval do Parlamento.

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Foto: Borges Nhamire

"Temos poucas escolhas", afirma Sande Carmona, porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

A terceira força política do país é a favor do envio de tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para ajudar Moçambique a combater o terrorismo na província nortenha de Cabo Delgado.

Mosambik | Partei MDM attackiert | Partei FRELIMO
Sande CarmonaFoto: Arcénio Sebastião/DW

"Tudo o que vier para salvar vidas, principalmente a partir dos moçambicanos, é bem-vindo", acrescenta Carmona.

Porém, é preciso que a matéria passe pelo crivo do Parlamento, defende o político. O MDM pede que os acordos a serem celebrados sejam claros e de domínio público para que cada moçambicano saiba interpretar a "eventual" vinda da força militar da SADC.

RENAMO apela a respeito de "parâmetros internacionais"

A cimeira de chefes de Estado e de Governo da SADC onde seria debatido o envio da ajuda estava prevista para esta quinta-feira (29.04), mas foi adiada "sine die" devido às ausências dos Presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e do Botswana, Mokgweetsi Masisi, "por motivos de força maior".

Notícias indicam que a proposta da missão da SADC que esteve em Moçambique prevê, entre outras ações, o envio de cerca de três mil militares para o terreno de operações em Cabo Delgado, uma província onde se localiza o maior projeto de gás natural do continente e que tem sido alvo de ataques de alegados grupos jihadistas desde 2017.

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José Manteigas, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), refere que a situação em Cabo Delgado já transpõe "as capacidades das Forças de Defesa e Segurança". Por isso, concorda com o envio de uma força militar da SADC.

"Acreditamos que estes militares que vão ser enviados, se for nos parâmetros internacionalmente aceites, vão ajudar a travar esta guerra", disse o político do maior partido da oposição.

"Em Palma, o nosso próprio Exército foi capaz de dar resposta"

Na quarta-feira (28.04), dia em que esteve reunido em Maputo o Comité Ministerial da Troika da SADC, a ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros e Cooperação declarou que "já há um entendimento comum sobre a natureza da ameaça, há clareza sobre as necessidades, meios e modalidades que permitam aos países canalizarem o seu apoio com urgência."

De acordo com a ministra Verónica Macamo, "os países da SADC que estiverem disponíveis a apoiar [Moçambique] poderão fazê-lo, de acordo com a sua capacidade, a partir de agora."

A governante não entrou em detalhes sobre o tipo de ajuda que poderá ser concedido a Moçambique.

Deutschland - Buchvorstellung Literaturhaus Köln - Mia Couto
Mia CoutoFoto: DW/J. Beck

Entretanto, o escritor moçambicano Mia Couto comentou em entrevista ao canal de televisão privado STV, parceiro da DW, o eventual envio de tropas estrangeiras a Moçambique.

"Nenhum país encontrou numa intervenção estrangeira essa solução miraculosa. Não será por trazermos tropas de fora que de repente a situação vai-se alterar profundamente. Em Palma, o nosso próprio Exército foi capaz de dar resposta, foi capaz de reverter aquela situação. Eu acho que esse é o caminho."

Ainda assim, o Exército moçambicano pode pedir apoio, entende Mia Couto: "O apoio, como já foi dito pelas autoridades moçambicanas, pelo Presidente da República, é um apoio no qual nós não abdicamos da soberania, somos nós que vamos dizer aos outros onde é que eles nos vão ajudar."

Falando especificamente sobre a proposta para o envio de três mil militares a Cabo Delgado, Mia Couto sublinha que "a intervenção não pode ser vista só como uma coisa técnica".

"Evidentemente, os países da região conhecem melhor a sua própria geografia, a geografia humana, têm capacidade de entrosamento com as populações. É preciso perceber que se trata de um assunto humano, não um assunto técnico."

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