Cada vez mais mulheres com HIV optam por tratamento para livrar filho do vírus
12 de março de 2013Desde a última segunda-feira (11.03), especialistas de diferentes países discutem o tema em Maputo, numa iniciativa das campanhas de sensibilização do projeto Dream, da organização católica Comunidade Sant'Egídio.
Mães podem ter filho livre de HIV
O tratamento contra a transmissão vertical de mulheres grávidas seropositivas em Moçambique está a ganhar ímpeto graças a campanhas focadas no público alvo. Desde 2002, a taxa de transmissão vertical do vírus de mãe para filho caiu de 30% para menos de 2%.
Somente entre 2005 e 2011, o número de mulheres seropositivas a aderir ao tratamento contra a transmissão do vírus ao bebê aumentou de oito mil para 70 mil. Um exemplo de que a terapia preventiva vem obtendo sucesso é Dulce Artur. Seropositiva, ela viu seu filho nascer livre do HIV-SIDA, em 2008. Agora, com cinco anos, o menino não tem vírus.
"Não acreditava que pudesse ter um bebé negativo. Foram longas horas de aconselhamento e por fim aceitei que submetessem o meu filho ao último teste que determinaria se ele era positivo ou negativo. Depois de 20 minutos, recebi a notícia de que o meu filho era negativo", conta aliviada.
Terapia precisa de ser levada a sério
A coordenadora nacional do projeto Dream, Inês Zimba, explica que muitas mulheres africanas não têm condições seguras para amamentar seus filhos por falta de alternativas. "Como o aleitamento artificial que não é recomendável por várias razões. Por exemplo, por ser de difícil acesso, por não ser sustentável e nem seguro. Então, opta-se pelo tratamento duradoiro durante a amamentação que pode ser de nove meses, um ano, 18 meses ou de dois anos, para assegurar à criança que não seja infectada por meio do leite materno", explica Zimba.
O Executivo moçambicano quer promover o acesso a profilaxias eficazes para pelo menos 90% das mulheres grávidas seropositivas. A intenção é reduzir o risco das mortes maternas pela metade.
Os fatores sociais e económicos aumentam a vulnerabilidade individual à infecção do HIV-SIDA, incluindo o estigma, a discriminação e a pobreza, destacou a vice-ministra da Saúde, Nazira Abdul.
"Sendo assim, a resposta quer nacional ou global, deve necessariamente abordar os aspectos sociais e estruturais de serviços dirigidos às comunidades de maior risco, na prevenção, tratamento e mitigação do impacto do HIV", explica Abdul.
A diretora executiva do programa Dream, Paola Germano, enfatizou a necessidade de acompanhamento das mulheres seropostivas ao longo do tratamento.
"De fato é na transmissão vertical que ocorrem perdas muito elevadas de pacientes [de 20 a 60%]. Perdas que frustram o arranque da terapia. Em 2010, as mulheres representavam 60% das pessoas infetadas com o HIV na África subsaariana. O HIV é a principal causa de morte entre mulheres em idade produtiva", esclarece Germano.
Dez centros de tratamento só em Moçambique
O Programa Mundial de Alimentação, PMA, promete envolver-se cada vez mais nos programas de nutrição para os seropositivos, segundo disse Lola Castro, membro deste organismo das Nações Unidas. "Sem um alimento adequado é muito difícil tomar medicamento. O medicamento é muito forte e reduz reações no corpo. Nesse sentido, falamos com mulheres e homens que passaram por tratamento nos hospitais ou nas ONGs deste ramo. Falamos também do consumo de papinhas fortificadas com soja, vitaminas e micronutrientes", reforça Castro.
Em Moçambique, o projeto Dream conta com dez centros de tratamento e dois laboratórios de biologia molecular. No país, a prevalência média do HIV é de 11,5% na população adulta.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Bettina Riffel / Renate Krieger