Captura indiscriminada de tartarugas em São Tomé e Príncipe
31 de julho de 2013A carne de tartaruga continua a ser consumida pelos são-tomenses num país que não dispõe de leis que protejam este animal marinho e onde o nível de captura é preocupante.
Dados da ONG Marapa de monitorização sobre o mar, o ambiente e a pesca artesanal revelam que, só em três praias do arquipélago, das 500 tartarugas monitorizadas, 267 foram capturadas nos últimos seis meses.
“Em cada quatro tartarugas que chegam à praia, três são capturadas”, conta Bastien Loloum, responsável pelo projeto de proteção das tartarugas marinhas da organização ambientalista. “E são muitas as tartarugas que acabam no mercado”, lamenta.
Faltam campanhas e leis
Segundo a ONG, a captura indiscriminada da tartaruga, deve-se à falta de campanhas de sensibilização e de leis que protejam a espécie. Numas das praias na zona sul de São Tomé, caçadores utilizam armas de fogo, obrigando guardas a suspenderem as suas atividades, denunciam os ambientalistas.
“Em algumas praias, os caçadores impedem os nossos guardas de fazer o seu trabalho de monitorização e de contagem dos traços e do seguimento da desova das tartarugas”, refere Bastien Loloum.
Os pescadores que vão para a fauna dizem que não podem regressar com os barcos vazios, para não somarem prejuízos. Felipe Santos admite que captura tartarugas no alto mar, que vende para comprar combustível.
Turismo ecológico prejudicado
A caça indiscriminada de tartarugas está a pôr em causa o negócio dos habitantes de Morro Peixe que, para além da pesca, vivem das receitas da observação noturna das tartarugas. Trata-se de um pacote de turismo ecológico à venda nas agências de viagens.
Hipólito Lima é responsável pela monitorização das tartarugas na região norte de São Tomé. Desde 2003, a ONG Marapa luta sem sucesso pela proteção das tartarugas em São Tomé e Príncipe, onde a carne do animal é vista como um afrodisíaco pelos habitantes. “Têm vindo chineses, franceses e portugueses. Quando querem ver a desova, entram em contacto comigo”, conta Hipólito Lima, explicando que o dinheiro recebido (cerca de cinco euros por cada elemento) serve para “pagar algumas compensações aos guardas quando não há financiamento”.
O arquipélago dispõe de várias leis do ambiente, mas nenhuma delas contém normas específicas que protejam o animal, apesar de o país ter assinado convenções que o leva a proteger espécies ameaçadas, que são caçadas e transformadas e vendidas como produtos derivados, como é o caso da tartaruga em São Tomé e Príncipe.
“As tartarugas marinhas vivas valem muito mais do que as mortas”, lembra Bastien Loloum, argumentando que com uma tartaruga viva, pode ganhar-se mais dinheiro do que com a venda da carne de uma tartaruga morta. Segundo o ambientalista da Marapa, “uma tartaruga viva pode ser utilizada por guias e como imagem do país”, algo que atrai turistas. “Matar tartarugas é acabar com a galinha de ouro”, conclui.