Senegal: MFDC condena morte de 13 jovens no sul do país
8 de janeiro de 2018Enquanto o exército senegalês continua à procura dos autores do massacre, o Presidente senegalês Macky Sall decretou um luto nacional de dois dias, a partir desta segunda-feira (08.01), em "memória das vítimas do ataque armado".
Três cidadãos da Guiné-Bissau contam-se entre as 13 vítimas mortais do massacre ocorrido no sábado (06.01), na floresta de Borofaye, zona próxima da fronteira entre a Guiné-Bissau e o Senegal. Segundo uma fonte diplomática guineense, em Ziguinchor, província do sul do Senegal, as vítimas guineenses são três homens (25, 26 e 35 anos) e estavam na zona a trabalhar na extração de madeira quando foram atacados por um grupo de homens armados .
O governador da região de Ziguinchor, Abdoulaye Baldé, está a diligenciar o transporte para a transladação dos corpos das três vítimas para as suas terras de origem na Guiné-Bissau, disse ainda a mesma fonte do consulado guineense à Agência Lusa
Apurar responsabilidades
Acusado por alguns observadores de estar na origem do regresso à violência numa região que há vários anos se vive uma certa acalmia, o Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC) que luta desde 1982 pela independência de Casamança, "condenou firmemente este ato" numa publicação feita no seu site. E pediu às "autoridades senegalesas para orientarem os seus inquéritos" para alguns responsáveis administrativos e militares locais "que estariam à frente de" uma vasta rede de corte e venda ilegal da madeira preciosa.
A região de Casamança que é uma das mais arborizadas do Senegal, vizinha da Guiné-Bissau e da Gambia e, pelo facto, muito cobiçada e local de grande tráfico.
O ambientalista e antigo ministro senegalês da pesca Haidar El Ali, que preside atualmente a ONG "Océanium" com base em Casamança, diz que não se pode dizer categoricamente que as autoridades estejam envolvidas nesse tráfico da madeira, mas admite que na administração existem alguns agentes que são "cúmplices” ou que são "corruptos" e que permitem essas atividades ilegais, mas que "não se pode falar das autoridades".
"Conflito entre empresas de madeireiras"
Algumas fontes em Dacar atribuem o massacre ocorrido no sábado (06.01), a um conflito entre empresas madeireiras locais, "cuja grande concorrência acabou por instaurar uma atmosfera de animosidade entre os trabalhadores".
Segundo Haidar El Ali a situação na região de Casamança é complicada e explica: "Existem muitas fações do MFDC, algumas estão envolvidas no tráfico e exploração ilegal da madeira e outras fazem comunicados a proibir este tráfico. Portanto, quando se fala do MFDC, de que fação estamos a falar? Constata-se hoje que os traficantes já pilharam praticamente toda a madeira existente e assim as nossas florestas estão em vias de desaparecer”.
Punição
O MDFC num texto publicado no seu site afirma ainda que continua a sua dinâmica de abertura ao diálogo a favor de uma saída "honrosa" para o conflito de Casamança. O movimento não se deixará ser enganado por falsos defensores da paz" e atores locais "que não querem mais do que acabar com essa dinâmica da paz a fim de poderem viver melhor com o conflito", conclui.
Um responsável local da rebelião, Oumar Ampaye Bodian, também condenou o massacre de sábado (06.01) e pediu que "o ato seja punido precisamente numa altura em que o Presidente da República estendeu as mãos ao MFDC". Segundo Bodian, o MFDC permanece determinado na procura da paz porque a "questão de Casamança deve ser solucionada à volta de uma mesa", assegura.
Fim das conversações de paz?
Analistas temem que o massacre possa "deitar por terra" o processo de paz em Casamança, relançado em outubro durante uma reunião em Roma entre o Governo de Dacar e uma fação do MFDC mandatado por um dos seus chefes, Salif Sadio.
Esta mediação é feita sob a égide da comunidade católica de Sant'Egidio, um conflito que já fez milhares de vítimas civis e militares, destruiu a economia da região e forçou centenas de habitantes a abandonarem as suas casas.
Recorde-se que as conversações de paz se multiplicaram com a chegada ao poder de Macky Sall em 2012.