Relação entre Brasil e Angola prejudicada por causa da IURD?
24 de maio de 2021Desde o dia 11 de maio, foram deportados de Angola 14 dos 34 missionários brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que ainda se encontravam em Angola.
Num programa da TV Record, de que o bispo evangélico Edir Macedo é proprietário, os pastores da Igreja Universal alegaram perseguição religiosa e política e xenofobia e acusaram ainda as autoridades angolanas de falsificação de documentos. Os religiosos também reclamam da inação do Governo do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que não conseguiu evitar a deportação.
O primeiro grupo de missionários deportados desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na noite de 12 de maio. Já o segundo, no último dia 18.
Em entrevista à DW, o professor de Relações de Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Emil Albert Sobottka, afirma que a deportação dos missionários brasileiros de Angola foi um procedimento "normal", tendo em conta a legislação em vigor.
‘'Para que a pessoa estrangeira possa trabalhar, ela precisa de cumprir certos requisitos que lhe permitem ter visto de trabalho. Era então o caso dos missionários [brasileiros] em Angola que, por uma questão de conflitos internos que vêm desde 2019, não estavam a receber a renovação dos seus vistos”, começa por explicar o analista.
E Sobottka acrescenta: "aqueles que não aceitaram sair pacificamente, então passaram a ser deportados, o que também faz parte, digamos assim, de uma legislação internacional, que é normal nos mais diversos países''.
Relações bilaterais prejudicadas
Já na opinião de Bruna Jaeger, professora de Relações Internacionais da Unilasalle, no Rio de Janeiro, a situação da IURD prejudica as relações bilaterais entre Brasil e Angola. "Ainda que os bispos da IURD não sejam diretamente atores da política externa, acabam por prejudicar as nossas relações que são históricas e muito importantes para o continente, especialmente com Angola - desde os anos 70".
Bruna Jaeger acrescenta ainda que existe, atualmente, "um afastamento do [Brasil] do continente africano muito forte. Há uma negligência da nossa política externa que abandonou esta plataforma de influência e inserção internacional", disse.
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, recebeu, no dia 17 de maio, representantes da Frente Parlamentar Evangélica para falar sobre a situação dos cidadãos brasileiros, pastores e familiares, ligados à Igreja Universal do Reino de Deus em Angola. Em declarações na rede social Twitter, o ministro garantiu todo o apoio do governo brasileiro em relação ao caso.
A reportagem da DW tentou contactar a Frente Parlamentar Evangélica, mas não obteve reposta.
Também o Departamento de Comunicação da Igreja Universal foi contactado inúmeras vezes por telefone e e-mail. As questões da DW foram enviadas à Igreja Universal, que não se manifestou ainda oficialmente.
Entretanto, em Angola, o conselho de bispos angolanos nomeou Alberto Segunda o novo líder da Igreja Universal do Reino de Deus.