Presidente da Guiné-Bissau reuniu-se com CEDEAO
2 de fevereiro de 2018Esta chamada do Presidente guineense à Conacri, acontece um dia depois (01.02) da CEDEAO ter decretado sanções coletivas e individuais contra os atores políticos que impedem a aplicação do Acordo de Conacri.
O chefe de Estado guineense, José Mário Vaz, reuniu-se com o Presidente do Togo, Faure Gnassinbé, e Presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e com Alpha Condé, chefe de Estado da Guiné-Conacri e mediador do bloco sub-regional para a crise guineense.
Aos jornalistas em Bissau e sem direito a perguntas, José Mário Vaz, afirmou que foi fazer um "ponto de situação" sobre a nomeação do novo primeiro-ministro: "Eles queriam saber antes e depois da nomeação do primeiro-ministro. Nós tivemos o cuidado de informar os passos que foram dados. Tendo agora o primeiro-ministro, a missão dele é formar o Governo. Ele está a fazer esse trabalho, a falar com todas as partes", disse José Mário Vaz.
Contudo, fontes consultadas em Bissau, indicaram que o Partido da Renovação Social (PRS), a segunda maior força política do país, que sustentou os últimos dois Governos, vai demarcar-se do ao novo primeiro-ministro, "por ser um alto dirigente do PAIGC".
Intelectuais desconformados
Entretanto, segundo a agência Lusa, um grupo de intelectuais guineenses publicou hoje ( 02.02) uma carta aberta na qual manifesta a sua "profunda preocupação" face à degradação do ambiente político e social no país, fruto de disputas políticas e partidárias.
A carta, que é assinada, entre outros pelo escritor Adulai Silá, o economista Carlos Lopes, a linguista Fatima Candé, o ator Welket Bungué, o jornalista e escritor Tony Tcheka, assinala que os subscritores são cidadãos guineenses sem filiação partidária.
Para os subscritores do manifesto, a classe política "não tem medido as consequências" das lutas que tem travado para conquista e conservação do poder, pelo que lhe é pedida que preserve a paz social e consolide a unidade nacional.
Ainda no mesmo documento, também é solicitada aos políticos que façam tudo, mas que "preservem a estabilidade e os valores democráticos consagrados na Constituição do país", lê-se no documento.
Os intelectuais guineenses enaltecem o desempenho da comunidade internacional, que afirmam, tem feito o suficiente, dentro do seu mandato, no sentido de oferecer uma solução à crise política que persiste na Guiné-Bissau, há três anos. Sublinham ainda que existem sinais de o país voltar a mergulhar em situações iguais às que em 1998 conduziram a um conflito político-militar.
"Face aos recentes acontecimentos ocorridos no país, nós, como cidadãos e intelectuais cientes dos seus direitos e deveres, não desejamos a reabertura de tais feridas", afirmam os intelectuais guineenses.
Congresso do PAIGC em adamento
Os trabalhos do nono congresso do PAIGC estão a decorrer na sua sede em Bissau, depois de terem sido condicionados por um cerco das forças de segurança ao edifício principal da sede do partido, junto ao Palácio da República.
O partido conseguiu recuperar a sua sede após um despacho emitido pelo novo primeiro-ministro, Artur Silva, membro do Bureau Político do PAIGC, que ordenou a imediata retirada das forças de segurança do local. Silva visitou ainda na noite de quinta-feira (01.02) a sede do partido onde foi fortemente aplaudido pelos militantes.
Artur Silva disse à uma rádio local que continua a ser do PAIGC e que tomará parte nos trabalhos do congresso: "Até prova contrária sou do PAIGC, militante do Bureau Político. Vou tomar parte no congresso, por inerência como delegado ao congresso e vou convidar todas as partes para a formação do meu Governo”, afirmou o novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau.
PAIGC não apoia Artur Silva
Por seu turno, o presidente do partido, Domingos Simões Pereira disse à DW-África que não está em causa a competência de Artur Silva, destacado militante do partido, mas por coerência, o PAIGC não irá apoiar o seu Governo.
A força da CEDEAO estacionada em Bissau, a ECOMIB, passa a vigiar as instalações do partido bem como manter a segurança de Domingos Simões Pereira.
Ali Hijzi, secretário nacional do PAIGC, disse que venceu a legalidade, afirmado que: "mostramos a resistência para a recuperação da sede”. Também como não tinha respaldo legal para que isso acontecesse, a invasão à sede foi ilegal e inconstitucional. O trabalho desta sede é apenas atividade politica. Ninguém tem motivo para invadir a sede de um partido político”.
O "incrível”
Um dos partidos convidados ao nono congresso do PAIGC é o MPLPA de Angola. O secretário para as relações internacionais, Dino Matrosse, instado a comentar o bloqueio à sede do PAIGC, considerou o que viu de "incrível”.
Ele disse que já participou em representação do seu partido em vários congressos, mas que nunca viu uma coisas dessas: "Uma sede de um partido político que está a realizar um congresso a ser ocupada pela polícia é anormal”.
O nono congresso do PAIGC deverá terminar no próximo domingo (04.02) em Bissau.