CEDEAO impõe sanções ao Mali com efeito imediato
2 de abril de 2012A decisão foi tomada nesta segunda-feira (02.04), em Dacar, no Senegal. A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiu impor imediatamente sanções diplomáticas, comerciais e financeiras ao Mali, depois da junta militar que ocupou o poder não ter respeitado a exigência da organização de entregar o poder aos civis até esta segunda-feira.
A CEDEAO ameaça agora encerrar as fronteiras do Mali a qualquer tipo de comércio, isolar o país diplomaticamente e congelar seus fundos no seio do Banco Central dos Estados da África Ocidental.
A cimeira foi a segunda em quatro dias, depois da realizada a 29.03 em Abidjan, que deu aos "golpistas" prazo até esta segunda-feira para um retorno à ordem constitucional, sob pena de um embargo "diplomático e financeiro".
A decisão manter-se-á em vigor até que a ordem constitucional seja efetivamente restabelecida, como afirmou, em Dacar, o chefe de Estado marfinense Alassane Ouattara, presidente em exercício da CEDEAO.
Observadores notam que esta cimeira extraordinária teve na verdade por objetivo analisar um "duplo desafio", ou seja: um golpe militar e uma insurreição tuaregue que não cessa de ganhar terreno no norte do Mali. No terreno, os rebeldes tuaregues prosseguem a sua ofensiva e ocupação do norte do país. Kidal, Gao e Tombuctu estão agora sob seu controle.
Restabelecimento da ordem
Em Bamako, a capital, o capitão Amadou Sanogo, que dirigiu o golpe de Estado de 22.03, já anunciou a intenção de restabelecer a Constituição de fevereiro de 1992, bem como as instituições republicanas dissolvidas durante o golpe, embora nenhuma data tenha sido avançada.
"Assumimos o engajamento solene de restabelecer a partir de agora a Constituição da República do Mali, bem como as suas instituições", disse o Capitão Amadou Sanogo.
Cheickh Mohamed Thiam, porta-voz do ADEMA, o partido que apoia o governo disse entretanto aos jornalistas que "não se pode falar de um regresso à vida constitucional normal e falar de transição. Queremos que a Junta regresse aos quartéis e, na atual situação, com os rebeldes a ganhar terreno, queremos que a CEDEAO decida agir militarmente para nos ajudar na região norte do país."
Soumaila Cissé, presidente da União pela República e a Democracia, que se posicionou contra o golpe, afirmou, por seu lado, que os militares deveriam reavaliar suas intenções. "Se a lógica da Junta [Militar] é levar a cabo um golpe de Estado e ao mesmo tempo ser incapaz de impedir o avanço dos rebeldes, então os militares deveriam repensar toda a situação por forma a permitir a este país reestruturar-se para poder enfrentar a situação e, na verdade, reunificar-se", completou.
Intervenção externa
Preventivamente, a CEDEAO colocou em estado de alerta uma força militar formada por 2 mil homens. Está prevista para breve uma reunião em Abidjan do Comité dos Chefes de Estado-Maior para discutir a possibilidade de ativar esta forma militar.
Tudo isso acontece numa altura em que a rebelião tuaregue do Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA) e os grupos que o apoiam ocuparam sucessivamente as três capitais regionais do norte maliano sem encontrar resistência. Com essa ocupação, a rebelião controla agora todo o norte do país, ou seja, metade do Mali.
A situação no país da África ocidental preocupa cada vez mais a comunidade internacional. O ministério alemão dos Negócios Estrangeiros divulgou um comunicado no qual recomenda aos alemães que se encontram no Mali a abanonarem o país o mais depressa possível. A França, por seu turno, aconselha que seus cidadãos não viajem para Bamako.
Também a pedido da França, o Conselho de Segurança das Nações Unidas anunciou que realizará uma reunião de emergência sobre o Mali na terça-feira (03.04).
Autor: António Rocha
Edição: Francis França/Renate Krieger