Chefe dos serviços secretos de Angola suspeito de corrupção
13 de março de 2013A denúncia resulta de uma investigação do ativista angolano Rafael Marques, divulgada no site Maka Angola, que se dedica à luta anticorrupção. De acordo com o jornalista, o general, conhecido por “Zé Maria”, até agora nome sem sombra de acusações, terá contratado uma empresa, propriedade da sua filha, para a prestação de serviços à instituição que dirige. No primeiro ano de contrato, em 2011, a empresa Infonauta, terá faturado perto de quatro milhões de dólares.
Todo o esquema de corrupção montado no país, permite o enriquecimento do círculo próximo do Presidente José Eduardo dos Santos e a manutenção do regime, afirmou Rafael Marques, em conversa com a DW África: “É o que chamamos de 'privatização do Estado'. Todos os serviços públicos são utilizados para fazer avançar as agendas privadas daqueles que os dirigem”.
A corrupção garante o poder do Presidente
“Por outro lado, também a corrupção é uma forma de garantia de poder do próprio Presidente, José Eduardo dos Santos, que a usa como o seu mecanismo mais importante, mais vigoroso na manutenção do seu poder pessoal”, diz Marques, que acrescenta: “Se ele tornou a sua filha [Isabel – NdR] rica, através de decretos presidenciais que conferiram negócios multimilionários à filha, os outros que lhe são mais próximos, como o general José Maria, também se sentem no direito de enriquecerem os seus filhos sem olhar a meios”.
Na opinião do ativista, “será a corrupção em, última instância, a causar a desintegração deste regime”.
Filha de general em negócios pouco transparentes
Nyanga Viandi Tyitapeka, filha do general “Zé Maria”, fundou, em 2010, a empresa Infonauta, cuja sede está registada oficialmente no seu local da sua residência, o mesma que o do seu pai. O general terá depois contratado a Infonauta para a prestação de serviços de informação ao SISM. O trabalho da Infonauta funciona assim nos próprios gabinetes do Serviços de Inteligência e Segurança Militar.
Além da Infonauta, o general Zé Maria terá introduzido também nas instalações do SISM David Stark, cidadão norte-americano, um conhecido da sua filha, que já afirmou ser um antigo colaborador dos serviços secretos dos Estados Unidos da América, CIA. O que preocupa Rafael Marques: ”Isso coloca a própria segurança do Estado, a soberania do país em risco, porque a corrupção atingiu tal ponto em que os dirigentes, os generais já não olham a meios para se enriquecerem pessoalmente”
Dirigentes não olham a meios para enriquecer
O ativista especifica que os dirigentes usam “todos os meios à sua disposição e os meios do Estado como se fossem privados, sem sequer conferirem alguma proteção àquelas instituições, que são chave para a própria sobrevivência do Presidente da República e do regime". O que coloca em risco também a coesão das forças armadas angolanos, “que são um instrumento importante quer na repressão quer na mudança do país”.
Ainda de acordo com Rafael Marques, o chefe do SISM, afastou recentemente, de forma arbitrária, 14 oficiais para defender o seu domínio privado da instituição. Este tipo de esquemas enfraquece as instituições do Estado, criando uma situação de perigo institucional que pode desequilibrar a manutenção do atual regime do Presidente Eduardo dos Santos, diz o ativista Marques: “E o grande perigo hoje não é a oposição. São as forças descontentes, que vão crescendo dentro do próprio exército nacional e dos serviços de segurança do Estado”.
Descontentamento cresce
Em conversa com a DW África, Rafael Marques diz ainda que este descontentamento está a arrastar o país para a beira do conflito, “por causa da corrupção e de falta até de respeito mínimo por aqueles que deram a toda a sua vida a combater por Angola e a combater para a manutenção de José Eduardo dos Santos” no poder. Segundo o analista, muitos hoje começam a questionar se entregaram toda a sua vida apenas “para o enriquecimento ilícito de um grupo muito restrito de famílias que hoje detêm o poder em Angola”.
Este ano, os Serviços de Inteligência e Segurança Militar têm um orçamento total de mais de 104 milhões de euros. De acordo com a atual Lei do Orçamento Geral do Estado, o general Zé Maria, chefe do SISM, apenas presta contas da execução do orçamento ao Presidente José Eduardo dos Santos. Pelo que “cerca de 20 a 30% do Orçamento Geral do Estado acaba nas contas dos dirigentes”, comenta Rafael Marques.
Autora: Glória Sousa
Edição: Cristina Krippahl/Renate Krieger