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Religião

Cinco anos de Papa Francisco

Astrid Prange De Oliveira | ms
12 de março de 2018

O primeiro papa da América Latina foi eleito em 2013. Quebrar barreiras tem sido a missão de Francisco, que nos últimos anos se tornou numa espécie de "estrela pop" teológica e política. Balanço de um pontificado.

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Foto: Getty Images

"Uma pessoa que pensa em construir muros em vez de pontes não é cristã. Isso não está no Evangelho", disse, sem rodeios, o papa Francisco na viagem que fez ao México, há dois anos. O pontífice criticava desta forma os planos do Presidente norte-americano, Donald Trump, de construir um muro para separar o México e os Estados Unidos da América (EUA).

O argentino Jorge Mario Bergoglio, agora com 81 anos, está no Vaticano há cinco anos. Poucos minutos depois da eleição do primeiro papa latino-americano, a 13 de março de 2013, já havia sinais de que este papa vindo de "outro fim do mundo", como o próprio declarou na altura, parecia ser diferente dos seus predecessores.

Vatikan Ivanka Trump, Melania Trump, Donald Trump & Papst Franziskus
Ivanka, Melania e Donald Trump foram recebidos no Vaticano em maio de 2017Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Vucci

Superar divisões

A mensagem do papa Francisco é simultaneamente política e pastoral. No muro de Belém, rezou pela paz entre Israel e a Palestina. Também defendeu o fim da "era do gelo político" entre Cuba e os Estados Unidos. E recebeu refugiados no Vaticano.

"Francisco quer superar divisões ao invés de cimentá-las com muros, porque ele é muito político", diz Bernd Klaschka, próximo do papa e ex-presidente-executivo da Ação Episcopal Adveniat, organização católica de ajuda à América Latina. "Na América Latina, Francisco desempenha um papel semelhante ao de João Paulo II na Europa, que contribuiu para a queda do Muro (de Berlim)", lembra.

Cinco anos de Papa Francisco

Embora o muro entre o México e os EUA continue a crescer, Francisco já conseguiu quebrar barreiras na Colômbia e em Cuba, através da mediação entre as partes em conflito.

A sua visita à República Centro-Africana em 2015 também contribuiu para o cessar-fogo e para a realização de eleições livres no país.

Mudanças na Igreja

Dentro da Igreja Católica também parece haver sinais de mudança. O papa nomeou novos cardeais da América Latina, de África e da Ásia e deu mais poder de decisão às conferências nacionais e regionais de bispos.

A maioria dos 49 cardeais nomeados por Francisco vem de países emergentes e em desenvolvimento, que até aqui tinham recebido pouca atenção no Vaticano. Aumenta, assim, a possibilidade de na próxima eleição papal o comité de cardeais - formado por 117 membros - escolher pela primeira vez um papa africano.

O membro mais jovem do comité é Dieudonné Nzapalainga, de 50 anos, arcebispo de Bangui, capital da República Centro-Africana. "O sumo pontífice ama África. Recentemente, ele pediu a todos os católicos e ao mundo inteiro que rezem pela paz no Congo e no Sudão do Sul", disse em entrevista à DW.

Fugir da violência na República Centro-Africana

Em 2015, Dieudonné Nzapalainga foi distinguido na Alemanha com o Prémio da Paz de Aachen, juntamente com o imã Kobine Layama, também da República Centro-Africana, pelos seus esforços em prol da reconciliação entre cristãos e muçulmanos no país.

Para o teólogo brasileiro Leonardo Boff, o rejuvenescimento do comité de cardeais mostra que Francisco pretende formar "uma dinastia de papas do Terceiro Mundo". "Este papa vai mudar a Igreja", disse à DW pouco depois da eleição de Francisco.

"Nunca antes num Pontificado houve tanta coragem para denunciar um sistema imperati. E ele inaugura uma primavera na Igreja. Vivemos 30 anos no inverno, numa espécie de volta à grande disciplina, enquadrando teólogos, condenando muitos que ocupavam cátedras importantes", defende Boff.

Padres casados?

A primeira viagem ao estrangeiro do sucessor de Bento XVI foi ao Brasil. Francisco chegou ao Rio de Janeiro em 2013 para a Jornada Mundial da Juventude. Agora, o papa convocou uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-amazónica, que terá lugar em 2019, no Vaticano.

Neste evento, deverá decidir-se se homens casados ​​podem ser ordenados padres, um tema tabu para a Igreja Católica. Os mais críticos já defendem que é preciso evitar o que chamam de "teologia Copacabana", em que os dogmas são suavizados e a doutrina tradicional da igreja é questionada.

"A igreja não pertence aos conservadores, mas a todos", responde o arcebispo de Accra, Gabriel Charles Palmer Buckle, que considera as reações exageradas. "Do mais conservador ao mais liberal, há espaço para todos nós no coração do papa Francisco".