Classe jornalística “sente-se ameaçada” em Moçambique
4 de novembro de 2022Faizal Abudo é jornalista da Televisão Muniga sedeada na cidade de Nampula. "A classe jornalística neste momento, devidas a estas detenções arbitrárias e agressões em pleno serviço, sente-se ameaçada", disse à DW África.
O jornalista Emerson Joaquim trabalha na AfroTV. Estreou-se na profissão há pouco mais de dois anos, mas já pensa em desistir.
"Nós que estamos há dois anos já estamos até a perder aquele gosto de seguir com esta profissão de jornalista, uma vez que a cada dia que passa temos que ouvir relatos de detenções e agressões", desabafa.
Faizal Abudo lamentou a recente detenção do jornalista Arlindo Chissale, antigo correspondente da DW África em Nacala-Porto. O repórter foi detido no distrito de Balama, em Cabo Delgado, acusado de terrorismo pelas autoridades. No entanto, na quinta-feira (02.11), ao final do dia, o Tribunal Distrital de Balama, em Cabo Delgado, ordenou a libertação do jornalista.
Faizal Abudo partilhou ainda um outro caso menos conhecido: "Na semana passada, os jornalistas da TV Muniga foram agredidos na Zambézia e isso ficou em branco. Nós precisamos de alguém de Direito para reverter este cenário para garantir a liberdade de expressão", frisa.
SNJ exige soluções
O Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) em Nampula mostra-se preocupado e exige soluções urgentes das autoridades. Hermínia Francisco, secretária provincial do SNJ, disse à DW África "é precisão trabalhar". "Ainda nesta semana estamos a celebrar o Dia Mundial contra a Impunidade dos Crimes Contra a Imprensa. Então, é uma situação generalizada", referiu.
Nesta quinta-feira (03.11), o gabinete do governador de Nampula convocou um encontro com a comunicação social sem definir a agenda. O governador, Manuel Rodrigues, que não autorizou gravações, disse pretender colher dos jornalistas as suas preocupações para o possível melhoramento da situação.
Uma das questões colocadas ao governante foi a recusa das autoridades governamentais em fornecer informações à imprensa.
Manuel Rodrigues garantiu que este e outros problemas serão ultrapassados e na ocasião instou os diretores provinciais a avançarem para uma maior a abertura à imprensa.
"Ficou claro que há coisas que precisam de ser limadas, e uma das coisas é a abertura das fontes", sublinhou Hermínia Francisco.