Troca de acusações sobre "serviços" nas eleições em Angola
8 de maio de 2017A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola escolheu as empresas Sinfic (Portugal) e Indra (Espanha) para prestar assistência eleitoral, através do fornecimento de soluções tecnológicas e de material de votação.
Segundo Júlia Ferreira, porta-voz da CNE, ambas são empresas de "prestígio no mercado interno e internacional", além de já terem trabalhado com a Comissão no passado – dois fatores que pesaram na escolha das empresas em concurso público.
A Sinfic e a Indra trabalharam "com a Comissão Nacional Eleitoral no processo de 2012 com eficiência, empenho e dedicação", disse Ferreira. "Considerámos que, no âmbito da avaliação valorativa de todos estes requisitos e de todos estes pressupostos, eram as empresas que estavam em condições de continuarem connosco no pleito eleitoral de 2017."
A assinatura dos contratos com as empresas estava prevista para esta segunda-feira (08.05.), mas foi adiada sine die.
Oposição desconfia
Mas os partidos da oposição discordam. Reunidos no último sábado (06.05.), na capital angolana, a oposição parlamentar acusou a CNE de pretender "manipular" o processo eleitoral.
Numa nota de imprensa lida por Benedito Daniel, do Partido de Renovação Social (PRS), os políticos declararam que as referidas empresas colocam em causa a transparência das eleições.
"As empresas que estão a ser escolhidas são as mesmas que participaram na fraude de 2008 e 2012", afirmou. "Em 2008, por exemplo, a Indra produziu mais boletins de voto do que aqueles que a CNE disse ter recebido, e forneceu um sistema tecnológico que não estava em conformidade com a lei. A Sinfic, por seu turno, foi a empresa que assessorou o Ministério da Administração do Território e a CNE na produção de cadernos eleitorais incorretos."
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), o PRS e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) alertaram ainda "que irão responsabilizar essas empresas, junto das autoridades reguladoras competentes, dos seus países, caso assinem, com a CNE, contactos que visem defraudar o povo angolano e provocar instabilidade em Angola".
"Jogo político"
Esta não é a primeira vez que a oposição apresenta reclamações do género, que não são atendidas. E o investigador Domingos da Cruz pergunta: "Será que nós, cidadãos, podemos levar a sério a reclamação da oposição? Temos uma oposição que reclama constantemente e, apesar de as suas reclamações não serem atendidas, submete-se ao mesmo processo [das eleições], que diz ser viciado."
Domingos da Cruz fala, por isso, num jogo político. "Eles não vão responsabilizar [ninguém], eles não têm poder nenhum. Eles não têm capacidade absolutamente nenhuma de responsabilizar empresas. Isso não passa de um mero jogo", conclui.