Combate a fotografias de nudez ganha força na Tanzânia
17 de janeiro de 2018“Video vixens”. Esta é a expressão que agita as discussões nas redes sociais tanzanianas. É também o termo com o qual algumas celebridades femininas se descrevem a si próprias no Instagram, Youtube ou Twitter. Surgem em biquinis, “lingerie” ou vestidos que revelam ou acentuam os corpos, dançando ou interagindo com bailarinos em vídeos musicais. Mas agora foram banidas.
É imoral, contra os costumes tanzanianos, e sobretudo nunca para os olhares das crianças, de acordo com alguns utilizadores. Por outro lado, outros argumentam que os “vixens” têm um considerável número de seguidores “online” e que apenas porque uma franja conservadora da sociedade não concorda, o governo não tem o direito de lhes vedar o acesso à rede.
Autoridades convocam artistas
As artistas, conhecidas como Gigy Money, Pretty Kind e Amber Kulu, entre outras, foram convocadas pelo Ministério da Informação, Cultura e Artes. Os “media” tanzanianos de entretenimento e alguns “bloggers” que cobriram o encontro publicaram, mais tarde, alguns vídeos, nos quais algumas das artistas se desculparam, enquanto outras criticaram o Governo por restringir as suas liberdades em rede. Alguns foram mesmo banidos de publicar “online” por alguns meses.Estes artistas e celebridades têm grandes grupos de seguidores e ganham o seu dinheiro desta atividade, de acordo com Juliet Kulangwa, editora-adjunta do jornal tanzaniano Mwananchi. Ela argumenta que “os artistas que agora apresentam a nudez, não o fazem desde ontem, mas quando o Governo nada faz, a sociedade começa a copiar. Torna-se moda”, atalha.
De acordo com Kulangwa, os vídeos e fotografias não são, pura e simplesmente, aceites pela cultura da Tanzânia. “É a nossa lei, são os nossos costumes, temos de obedecer”, sublinha.
Kulangwa é até de opinião que o Governo deveria ir ainda mais longe e censurar conteúdos mostrando celebridades estrangeiras na televisão do país e nos canais “online”. “Banimos os artistas locais, mas Rihanna e outros do estilo continuam a aparecer”, sustenta. O que a preocupa principalmente é a nudez, o que inclui mulheres aparecendo em biquini ou “lingerie”, transmitida antes das 23 horas, quando crianças podem ainda estar a ver televisão.Dito isto, as empresas de “social media”, como o Instagram, o Facebook e o Youtube têm, na origem, políticas anti-nudez para os seus conteúdos, o que inclui a proibição de publicação de fotografias e vídeos mostrando peitos femininos, órgãos ou atos sexuais. Na prática, porém, este tipo de conteúdos acaba por surgir frequentemente “online”.
Onde termina a censura?
“O problema com esta tomada de posição é definir onde termina a privacidade de quem decide postar este tipo de fotos e vídeos, e quando é que passa à condição de figura pública”, questiona Maria Sarungi Tsehai, ativista “online”, perita em comunicação e Diretora do "Miss Universo Tanzânia". Ela acredita que esta matéria vai para além da suspensão destes artistas. Porém, ela própria compreende que a questão moral acaba por ganhar sempre peso neste tipo de discussão.
No "Miss Universo Tanzânia", Tsehai e a sua equipa decidiram suspender o desfile em fatos de banho do processo de seleção, porque, de acordo com a Diretora, a sociedade tanzaniana não entenderia bem os seus verdadeiros objetivos. Alguns homens poderiam vê-lo como um convite ao assédio sobre as modelos e muitas pessoas sentir-se-iam ultrajadas, também porque, na generalidade, muitos acreditam que os concursos femininos de beleza não ajudam as causas das mulheres.Já quando as vencedoras se deslocam ao estrangeiro, têm mesmo de tomar parte nos desfiles em biquini, o que, admite Tsehai, é particularmente difícil de aceitar para alguns pais. “Tudo depende também das gerações. Hoje se disser a um tanzaniano urbano que usar calções é imoral, ele provavelmente não compreenderá, porque consomem “media” ocidentais e estão habituados a isso,” diz Tsehai. “Acabamos por perceber que os artistas vestem de acordo com o que é a moda global.”
Tsehai acredita, contudo, que o Governo está agora a ir longe demais. Algumas das contas em plataformas sociais que foram pura e simplesmente banidas são, na realidade, privadas e restritas, acentua. “Se seguirmos a conta de uma celebridade, sabemos perfeitamente o que vamos ver.”
A censura governamentalA censura das celebridades “online” é, no entanto, apenas um exemplo do esforço do governo da Tanzânia para combater a força das redes sociais e dos conteúdos dos “media” tradicionais. Já esta semana, Nipashe (um jornal local) foi banido por três meses por insultar o presidente tanzaniano John Magufuli. O editor de uma popular plataforma de discussão, Jamii Forums, foi igualmente detido e julgado por publicar conteúdos relacionados com a corrupção no país.
A atual lei que regula o ciber-crime foi assinada pelo anterior Governo. Porém, foi o atual executivo o primeiro a implementá-la. “Isto levou a que vários cidadãos tenham sido detidos ao abrigo dessa lei,” diz Tsehai. Muitos deles, nota, nem sabem sequer os seus direitos. O problema foi que esses cidadãos foram detidos por mais de 48 horas, não sabendo sequer os seus direitos, e ficando assustados, tal como as suas famílias.
De acordo com esta ativista, a censura governamental poderia ser combatida com a informação sobre os direitos dos cidadãos, e tentando promover e estimular reformas no âmbito da atual moldura legal.