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Comentário: A teimosia de dois homens em Moçambique

Johannes Beck22 de outubro de 2013

O fim do Acordo Geral de Paz é o resultado da teimosia de dois homens, Afonso Dhlakama e Armando Guebuza. Mas significa também a falha da cooperação internacional em Moçambique, escreve Johannes Beck no seu comentário.

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Afonso Dhlakama na Gorongosa durante uma conferência de imprensa em abril de 2013Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

O "Pai da democracia", é assim que se define o próprio Afonso Dhlakama. Afinal, foi ele que trouxe o sistema multipartidário para Moçambique através da luta durante os 16 anos de guerra civil de 1976 a 1992 contra o antigo movimento marxista pela independência do país, a FRELIMO. "Graças à luta da RENAMO, hoje Moçambique é um país democrático", escreve a RENAMO no website do partido.

Mas há grande risco de Dhlakama, depois de ter rompido com o Acordo Geral de Paz de Roma, ser conhecido como "pai da guerra". É um dos principais responsáveis pela nova guerra civil em Moçambique depois de 21 anos de paz.

Nos últimos anos, foram muitas as vezes que Dhlakama ameaçou retomar a luta armada de forma explícita ou implícita. Decidiu deliberadamente manter um grupo armado do partido apesar de violar assim os princípios fundamentais do Acordo Geral de Paz. Os homens armados da RENAMO, escondidos em bases fechadas longe do olhar do público, tornaram viáveis as ameaças bélicas de Dhlakama.

Com a sua teimosia e a falta de tolerância em relação a opiniões divergentes, Dhlakama isolou a RENAMO. Muitas pessoas capazes e críticas abandonaram o partido. Alguns fundaram o MDM, o Movimento Democrático de Moçambique, a nova força política do país, que conquistou uma boa parte do eleitorado da RENAMO.

Uma retórica de guerra e ações simbólicas como o regresso à antiga base da RENAMO durante a guerra civil na Gorongosa, fazem parte do repertório de Dhlakama. Em vez de enfrentar a FRELIMO no Parlamento na capital, fugiu ao debate através do auto-isolamento na província.

Armando Emilio Guebuza Präsident Mosambik Afrika
Armando Guebuza (foto: na Cidade do Cabo em 2011)Foto: picture-alliance/dpa

O Presidente Guebuza falhou

Mas Dhlakama não é o único culpado pela situação. O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, quis arriscar um confronto quando ordenou a tomada da base da RENAMO na Gorongosa. Nos meses anteriores mostrou pouco empenho durante as negociações entre o Governo e a RENAMO. Mesmo após aproximadamente vinte rondas falhadas de negociação, não aceitou uma mediação externa no conflito como a RENAMO propusera.

Comentário: A teimosia de dois homens levou Moçambique à beira do abismo

Guebuza sempre tentou evitar encontros pessoais com Dhlakama, ao contrário do seu antecessor como Presidente do país, Joaquim Chissano, que teve um melhor relacionamento pessoal com o líder da RENAMO.

O próprio Guebuza enriqueceu com o "boom" económico em Moçambique. Bancos, telecomunicações ou portos, quase não há setor económico em que Guebuza não tenha participações. Outros líderes da FRELIMO seguiram o exemplo e asseguraram a sua parte na economia moçambicana, que cresce por causa da descoberta de recursos naturais como o carvão e o gás. Ao mesmo tempo, a população continua na miséria. Um contraste que semeou inveja.

Paralelamente Guebuza intensificou a partidarização ou – melhor – a frelimização do Estado. Funcionários públicos foram pressionados para aderirem ao partido. Durante o seu mandato, aumentou o clima de medo no país.

As ilusões da comunidade internacional

O fim da paz em Moçambique, também é uma falha dos doadores internacionais. Durante demasiado tempo se deixaram iludir pelo alto crescimento económico. Mesmo quando o combate à pobreza não avançou mais e quando a FRELIMO intensificou o seu controlo do Estado e da economia do país, muitos governos preferiram tratar Moçambique como a "Pérola da cooperação internacional no Oceano Índico".

Johannes Beck – Redaktionsleiter Portugiesisch für Afrika
Johannes Beck é chefe de redação da DW ÁfricaFoto: DW/F. Craesmeyer

Durante anos, Moçambique financiou mais de metade do seu Orçamento de Estado através das doações internacionais. Foi uma oportunidade única para exercer alguma influência. Mas apesar do curto episódio da "greve dos doadores" em 2010, os governos hesitaram demasiado. Preferiram discutir a participação das suas empresas no boom económico, em vez de salvar a democracia e a paz em Moçambique.
O fim do Acordo Geral de Paz é o resultado da teimosia de dois homens. Mas significa também a falha da cooperação internacional em Moçambique.

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