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O regresso à vida civil dos guerrilheiros da RENAMO

Bernardo Jequete (Manica)
2 de setembro de 2020

Depois de entregarem as armas em junho, ex-militares da RENAMO abrangidos pelo pacote de reintegração começaram a regressar às suas aldeias. A DW visitou bairros em Manica onde foram acolhidos. E "irmãos" são bem-vindos.

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Muitos guerrilheiros da RENAMO já entregaram as armas (foto de arquivo)Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

Alguns ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) abrangidos pelo pacote de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração (DDR), a 11 de junho deste ano, em Savane, dizem sentir-se bem nos bairros onde cada um escolheu viver. 

O ex-major Filipe Temanhe, de 62 anos de idade, era guerrilheiro do maior partido da oposição. Foi recrutado em 1981, no distrito de Búzi, província central de Sofala. Diz ter sido bem recebido no bairro Nhauriri, em Chimoio, onde escolheu viver o resto da sua vida civil junto da família.

"Desde que cheguei aqui nunca vi nada mal. Os vizinhos estão a colaborar bem, não há desrespeito, há um respeito mútuo. A maior parte dos guerrilheiros querem viver na cidade pois lá fora há muita confusão", conta Filipe Tamanhe à DW África, enquanto fabrica blocos de argila para a construção da sua casa.

Afirma que "o dinheiro do DDR não é pouco nem muito", até porque "o dinheiro nunca chega", mas pelo menos recebem."Estou a usar o dinheiro para construir uma casa, usar na machamba, para produzir e a família poder comer", relata o antigo major da RENAMO.

Desmobilizados são bem-vindos

O ex-guerrilheiro crê que nada de mal lhe poderá acontecer nos próximos tempos, pois a recepção naquela zona residencial foi calorosa. O talhão onde irá erguer a sua residência foi-lhe dado por um vizinho, sinal de que ele e outros não têm nada contra o ex-guerrilheiro da RENAMO, entende.

"Qualquer um que chega, temos de conviver com ele, brincar com ele e trocar experiências e ensinar os negócios que fazemos, para ele viver connosco da mesma maneira", diz Ana Alberto Simão, a líder do bairro Primeiro de Maio em Chimoio, província central de Manica, que também acolheu um dos beneficiários do DDR. "Ele estava perdido e nós recebemo-lo. Somos irmãos e é bem-vindo", assegura.

Moçambique: Desmobilizados da RENAMO vivem com medo

Também Maurício Jorge, régulo do posto administrativo de Nhampassa, no distrito de Báruè, Manica, uma das regiões tidas como palco da tensão político-militar, diz estar de braços abertos para receber qualquer um naquela região.

"Estou pronto para receber esses irmãos porque não há lugar onde podem estar, a não ser connosco porque somos iguais", garante. "E se não tem machamba, se não tem talhão, estou pronto para dar", diz o régulo, para quem os conflitos são coisa do passado. "Aquilo aconteceu e passou. A população também já não quer guerra", sublinha Maurício Jorge.

Receber os ex-guerrilheiros de forma condigna

A governadora da província de Manica, Francisca Domingos Tomás, aconselhou já as lideranças dos bairros nos distritos e outras estruturas ao mais alto nível a receberem os ex-guerrilheiros da RENAMO de forma condigna.

"Queremos pedir aos nossos líderes para os receber, e se necessário dar lugar, espaço para eles viverem, porque ao serem desmilitarizados e desmobilizados lá nas bases, é para deixarem de fazer guerras e virem sentar-se connosco, nas nossas comunidades e puderem conviver connosco", encorajou a governadora.

Mosambik Manica | Francisca Domingos Tomás
Governadora de Manica, Francisca Domingos TomásFoto: DW/B. Jequete

Francisca Domingos Tomás defendeu que é preciso "receber bem" os desmobilizados, como se fossem filhos e irmãos. "Não podemos estranhar a sua presença, temos de cuidar bem e dar espaço para construírem, porque estão a receber chapas e material para construir as suas casas para poderem viver com a sua família", sublinhou.

André Majibir, secretário-geral da RENAMO, enalteceu o nível de execução do processo de DDR, visto que os homens abrangidos pelo processo estão a receber kits de material para construção e um valor monetário que receberão de três em três meses.

Sobre as alegadas perseguições de homens da RENAMO, o secretário-geral, André Majibir, apelou aos organizadores a pararem com os atos de perseguição e a não pautarem pela violência. "Estamos a apelar às pessoas que mandam fazer isso para pararem. Temos estado também a apelar à nossa população para não responder com violência porque podemos de novo desembocar numa situação completamente desagradável", alertou.