Desemprego preocupa jovens africanos reunidos em Lisboa
22 de junho de 2019Os jovens africanos devem estar preparados para enfrentar os desafios de acesso ao mercado de trabalho e munir-se de capacidades para criar o seu próprio emprego, através do empreendedorismo, apostando nas novas tecnologias. A base está na formação académica e profissional, segundo defendem alguns dos participantes na Conferência Mundial dos Ministros responsáveis pela Juventude e do Fórum da Juventude "Lisboa 21", a decorrer este fim de semana no Parque das Nações, em Lisboa.
Alguns dos participantes ouvidos pela DW África querem uma maior valorização do potencial criativo dos jovens, investindo-se mais na componente empreendedora, de modo a não dependerem apenas de oportunidades de emprego nas instituições do Estado.
Gerar o próprio emprego – a solução?
Evelina Almeida é estudante universitária e presidente da diáspora juvenil africana em Portugal. Está a terminar o mestrado na área das Ciências Geofísicas, com projeto para fazer o doutoramento. O seu plano é voltar a Cabo Verde e encarar o mercado de trabalho: "Para mim vai ser fácil, porque estou muito ligada ao associativismo, estou por dentro do mercado de trabalho e já tenho de antemão pessoas que já querem trabalhar comigo, que já me fizeram algumas ofertas. Por enquanto, penso mais em trabalho a nível internacional e, depois, voltar para o meu país com alguma bagagem".
A jovem cabo-verdiana acredita que não ficará desempregada, por se tratar de uma área pouco desenvolvida no seu país natal, onde há muita procura e pouca oferta.
Evelina Almeida é uma das convidadas da Conferência Mundial e Fórum da Juventude, a decorrer até domingo (23.06), em Lisboa, onde, entre outros temas, se discute a problemática do desemprego jovem e do acesso ao emprego digno. Uma questão, segundo Evelina Almeida, que "preocupa todos os jovens e deve ser muito discutida, porque hoje a juventude põe a possibilidade de não entrar para o ensino superior sabendo que não há empregabilidade, não há trabalho".
Em África, a população jovem, que cresce cada vez mais, debate-se com a falta de emprego. Como encontrar emprego para dar resposta aos anseios da juventude? Para a jovem cabo-verdiana, deve-se investir mais nos cursos de empreendedorismo, motivando os jovens a serem criadores do seu próprio emprego, após terminarem a formação ou o ensino superior.
Mais formação, mais oportunidades
O desenvolvimento integral da juventude, uma das prioridades do Instituto da Juventude de Angola, passa pelo investimento na educação e na formação profissional, mas também pela criação de oportunidades de acesso ao primeiro emprego. "Pelo facto de ter uma população maioritariamente jovem, traz também para os estados africanos essa responsabilidade de desenvolverem um trabalho aprimorado no sentido de conceder oportunidades de emprego para essa juventude", considera Jofre dos Santos, diretor-geral da instituição.
"O maior desafio do Governo [angolano] é dar mais oportunidades de formação aos jovens para que estes possam estar mais bem habilitados e desse modo obterem mais oportunidades de emprego. E o que queremos é que este emprego seja qualificador, não seja apenas remuneratório, de modo a que esses jovens possam, através desses empregos, desenvolver as suas vidas", explica.
Em Angola, mais de 60 por cento da população é jovem. O desemprego afeta jovens entre os 15 e os 24 anos. Uma das medidas encetadas pelo Governo angolano visa o incentivo ao empreendedorismo. Foi preciso aumentar o número de centros de formação profissional. Está em curso também o Programa de Empregabilidade, "que visa essencialmente dar resposta a esta preocupação da juventude, face às dificuldades de acesso ao emprego".
Não esquecer o "aspecto social"
Esta é uma das matérias em debate na Conferência Mundial dos Ministros responsáveis pela Juventude, e do Fórum da Juventude "Lisboa 21", que termina este domingo com uma Declaração renovada sobre Políticas e Programas de Juventude, no quadro da Agenda 2030.
A conferência trouxe a Lisboa Vinicio de Pina, ministro da Juventude, Desporto e Empreendedorismo de São Tomé e Príncipe, onde o desafio é ainda maior, tendo em conta que os jovens representam aproximadamente 70 por cento da população.
A empregabilidade é uma matéria que "tem de ser devidamente analisada de modo a encontrarmos respostas que satisfaçam os anseios da juventude no que toca à sua inclusão no mercado de trabalho”, sublinha o governante. Para isso, acrescenta, é preciso envolver os jovens na criação do auto-emprego: "Queremos investir fortemente no empreendedorismo como forma de gerar rendas, mas também gerar emprego sem se esquecer do aspeto social", precisa.
"Neste momento, temos alguns projetos no âmbito do empreendedorismo social e estamos cientes de que esta aposta dará resposta aos grandes desafios do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável plasmados na Agenda 2030", garante o ministro são-tomense.