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Confrontos em Tete originam pânico e põem populações em fuga

Amós Zacarias (Tete)27 de julho de 2015

Tiroteios entre as Forças de Intervenção Rápida (FIR) e o braço armado da RENAMO, sexta-feira e sábado, na província moçambicana de Tete, resultaram em casas incendiadas e na fuga das populações para o vizinho Malawi.

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Foto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

O conflito entre agentes de Intervenção Rápida das forças de segurança governamentais (FIR) e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) está a criar um ambiente de pânico no povoado de Ndande, posto administrativo de Ncondedzi, no distrito de Moatize.

O tiroteio começou na manhã de sexta-feira (24.07), altura em que "foram disparados vários tiros com armas pesadas", testemunha Robat Kenneth. "Foi por sorte que escapamos", acrescenta o residente em Ndande, que estava perto do local.

Várias casas e infraestruturas sociais foram incendiadas. "As populações locais acusam a Unidade de Intervenção Rápida destes actos", relatam Ana Maria e Sónia Maria, que se cruzaram com o repórter da DW África no caminho para Ndande, na manhã de sábado (25.07).

As duas testemunhas refugiaram-se num abrigo nas matas de Ndande, onde passaram a noite. "Na sexta-feira aparecem aqueles militares da cidade, queimaram-nos todas as coisas e nós ficamos sem nada", contam as testemunhas oculares, que viram as suas casas e celeiros serem queimados. "Queimaram o carro, queimaram tudo. Dormimos no mato [durante a noite] para poder ir à cidade [quando amanhecesse]", disse Ana Maria, uma camponesa residente na cidade de Tete e que se dedica à agricultura na zona do Ndande.

Mosambik Militär
Forças do Governo numa das bases da RENAMO em Sofala (23.10.2013)Foto: picture-alliance/dpa

A outra testemunha, também vítima dos confrontos, afirma que "não eram os militares da RENAMO que estavam a queimar. Quando eles [FIR] começaram a pegar fogo, nós estávamos muito perto, a cinco metros. Não é a primeira vez. De uma outra vez queimaram, numa zona distante de Ndande, casas e motorizadas", lamenta Sónia Maria, outra vítima.

Os populares dizem que convivem há dois anos com homens armados da RENAMO e estes nunca lhes fizeram mal. Segundo Sónia Maria, "os militares da cidade é que vieram provocar", lamenta a vítima.

Luís Núdia, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Tete, refuta as acusações e declara que "a polícia está naquele local para defender as populações, seria absurdo que fosse ela a queimar casas de pessoas civis, salvo se trate de cabanas onde viviam os homens da RENAMO".

"Moçambique não está em guerra"

A DW África esteve no povoado de Ndande no sábado (25.07) e observou várias famílias a tentar sair do local à procura de abrigos seguros. Mastala Lenala estava desesperado. "Não sei como vou viver, estou com medo", confessa. "Na noite de sexta-feira (24.07) pernoitei no mato. Muitas pessoas estão a sofrer, fugiram para o mato e para o Malawi", declara o residente de Ndande.

As pessoas contam que no Malawi estão a ser interditados pelas autoridades policiais, que alegam que "Moçambique não está em guerra".

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No sábado (25.07), o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, voltou a condenar, em comício popular no distrito de Marigué, norte de Sofala, os ataques aos seus homens armados que estão posicionados no distrito de Moatize e Tsangano, em Tete. Na ocasião, Dhlakama garantiu que o país não voltará a ter uma guerra.

Estes confrontos acontecem a poucos dias da visita do chefe de Estado, Filipe Nyusi, a Tete, prevista para terça-feira (28.07). Na agenda de Nyusi está marcado um comício popular no distrito de Tsangano local dos últimos confrontos entre as forças de defesa do Estado moçambicano e os homens armados da RENAMO.

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