Crises africanas novamente em mais uma cimeira da UA
8 de junho de 2015
Membros do Comité de Representantes Permanentes da organização Panafricana, reunidos em Pretória, deram o pontapé de saída nas discussões que vão prolongar-se durante os próximos 8 dias.
Na sessão de abertura da cimeira, o líder do Comité de Representantes Permanentes da União Africana, Albert Ranganai Chimbindi, apelou ao reconhecimento, pelos Estados membros, das mulheres como parceiras igualitárias no desenvolvimento.
Por sua vez, o seu vice, Erastus Mwencha, sublinhou que o encontro servirá para debater formas de melhorar o desempenho económico do continente, desenvolver infra-estruturas, combater a pobreza e trabalhar para a paz e a segurança: “Gostaria de ver o continente avançar de forma mais forte."
Erastus Mwencha quer "um continente determinado, por exemplo, em lançar um acordo de comércio livre totalmente africano, que permita a África realizar mais trocas internas e comunicar mais rapidamente através da rede ferroviária.”
África desenvolvida dentro de 20 anos?
De acordo com o diplomata queniano, a União Africana já elaborou um plano para desenvolver o continente durante as próximas duas décadas, focando-se nas infra-estruturas e tecnologias de comunicação.
Outro dos grandes objetivos da organização, ainda segundo Erastus Mwencha, é combater o fluxo de capitais ilícitos no continente. Recentemente, as Nações Unidas revelaram que África perde todos os anos cerca de 60 mil milhões de dólares devido à corrupção dos políticos e empresários africanos, o que equivale a 4% do seu Produto Interno Bruto.
E durante a cimeira de oito dias, os membros da União Africana vão também debater medidas para combater este problema. É o que garante o embaixador sul-africano na Etiópia e Representante Permanente na União Africana, Ndumiso Ntshinga, sublinhando ainda a necessidade de a organização se tornar mais independente do ponto de vista económico:
“Queremos que esta união se torne cada vez mais auto-suficiente e cada vez menos dependente de financiadores externos. Queremos ser donos da organização e isto não é sustentável quando os orçamentos vêm de fora. Sustentável é sermos nós próprios a financiar-nos e, aí, fazemos o que queremos”, finaliza Ntshinga.
As eternas crises político-militares
Também as crises políticas e de segurança em países como o Burundi ou o Sudão do Sul e a ameaça extremista islâmica em Estados como o Quénia, a Nigéria e a Somália são tópicos centrais na agenda da cimeira da União Africana.
Neste ponto, a organização tem sido fortemente criticada pela resposta lenta aos focos de violência em vários pontos do continente africano.
Manji Cheto, vice-Presidente da Teneo Intelligence, uma organização de análise de risco baseada em Londres, considera que é altura de a União Africana adotar planos concretos para responder aos problemas do continente: "A União Africana tem de estabelecer políticas de forma eficiente, definir uma estratégia política para lidar com as crises africanas."
E o vice-Presidente da Teneo Intelligence prossegue: "Se houvesse resoluções de paz, políticas e mecanismos estabelecidos dentro da organização, acho que a União Africana seria muito mais funcional e eficaz e não uma entidade que quer intervir diretamente e não tem resultados. Não temos a estrutura necessária para o fazer."
Com centenas de migrantes africanos vítimas de naufrágios na travessia pelo mar Mediterrâneo em busca de melhores condições de vida na Europa, a questão das migrações deverá também marcar a 25ª cimeira da União Africana. Os representantes africanos vão também analisar os relatórios da organização sobre a crise humanitária provocada pela epidemia de ébola.