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Costa do Marfim depois de Laurent Gbagbo

19 de abril de 2011

Até mesmo alguns adeptos do ex-presidente Laurent Gbagbo se sentem agora aliviados por ter terminado o sangrento confronto entre ele e o novo chefe de estado Alassane Ouattara, que se arrastou por quatro meses.

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A Costa do Marfim fica no Golfo da Guiné entre o Gana e a Libéria

Uma semana depois de Gbagbo ter sido preso, a normalidade regressa lentamente a Abidjan. Mas no interior do país ainda se verificam algumas escaramuças e centenas de milhares de refugiados aguardam o regresso às suas terras. No maior campo de refugiados, Duékoué, vivem mais de 27.000 em péssimas condições.

Os poços estão poluídos, de vez em quando aparecem cadáveres nos campos. No campo de refugiados de Duékoué faltam todos os cuidados de higiene. Na missão católica que fica ao lado estão alojadas pessoas que foram apanhadas nos últimos meses pelas lutas entre os grupos que apoiavam os candidatos rivais. O exército de Ouattara, que venceu as eleições, foi acusado de ter feito ali um massacre no final de Março.

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Os combates entre os grupos rivais deixaram muitas cicatrizes nas ruas de AbidjanFoto: AP

Campos de refugiados superlotados

A enfermeira alemã Ina Blümel trabalha para a organização humanitária Save the Children. Ela já viu muitos campos de refugiados em África, na Ásia e nas Caraíbas. Mas estes na Costa do Marfim são piores:

“As pessoas sentem muito medo, têm receio de sair de casa, apesar das colheitas estarem à porta. Isto foi uma coisa que nunca me ocorreu nos oito anos que aqui trabalhei. As pessoas estão cheias de medo, apesar dos capacetes azuis garantirem a segurança no campo. Nunca senti um tal ambiente em campos como este”.

Ina Blümel organiza a distribuição de medicamentos, alimentos e outro material como redes mosquiteiras. A sua equipa cria espaços onde as crianças podem brincar umas com as outras, acompanhadas por educadoras. Também dá apoio a jovens mães que não têm mais nada no mundo senão o seu bebé. Ina Blümel encontrava-se no campo de refugiados quando há uma semana chegou a notícia de que na distante Abidjan, Laurent Gbagbo tinha sido detido e que chegara ao fim a estranha presidência dupla na Costa do Marfim.

“Todos se sentem aliviados por haver agora um presidente, diferente do anterior que durante anos impediu que o país avançasse. A nível regional e local porém, as preocupações são muito maiores. O que se passa com o meu vizinho? Posso ir cultivar os meus campos, sem que a minha família corra o risco de se ver envolvida em novos incidentes?”

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Na província ainda não acabaram os confrontos entre os adeptos dos dois rivaisFoto: Elfenbeinküste Unruhen Abidjan Rebellen

A violência continua na província

Apesar do novo presidente Ouattara e do seu rival vencido Gbagbo terem convidado os respetivos adeptos a absterem-se de violências, continuam a verificar-se em certas regiões confrontos e pilhagens. Entrevistado por uma rádio francesa, um habitante conta que o seu pai – um adepto de Gbagbo - tem receio de voltar à sua aldeia natal e continua escondido no mato:

“Para mim isto não é reconciliação. Não há transparência naquilo que é dito. Não se pode dar entrevistas aos jornalistas ocidentais, exigindo reconciliação e ao mesmo tempo pilhar as propriedades das pessoas em Abidjan ou destruir as plantações nas aldeias”.

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Mais de 250.000 pessoas foram obrigadas a fugir das suas terras e vivem atualmente em campos de refugiados, em péssimas condições.Foto: picture alliance/dpa

Autor: Carlos Martins

Revisão: António Rocha

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