Costa do Marfim retoma cotidiano sob tensão
13 de abril de 2011Dois dias depois da prisão de Laurent Gbagbo, o presidente cessante da Costa do Marfim que não aceitou a derrota no segundo turno da eleição presidencial, realizada em novembro do ano passado, o cotidiano dos marfinenses parece voltar ao normal. Mas, segundo agências noticiosas, ainda há violência em vários bairros de Abidjan, a capital econômica da Costa do Marfim.
Os postos de gasolina estão funcionando, os táxis coletivos voltaram a transportar cidadãos de Abidjan, livres para ir e vir depois de dez dias trancados em suas casas por causa da violência causada pela ofensiva, nas últimas semanas, de forças leais a Alassane Ouattara (cuja eleição foi reconhecida pelas Nações Unidas e por grande parte da comunidade internacional). Testemunhas citadas pela agência Reuters teriam dito que a água corrente e a eletricidade foram restabelecidas na maior parte de Abidjan.
O porto de Abidjan deverá voltar a abrir na próxima segunda-feira, enquanto o presidente agora no poder, Alassane Ouattara, disse que a exportação de cacau deverá reiniciar imediatamente. “Assinei uma ordem na terça-feira. O porto de Abidjan está sob controle. Nomeei um diretor interino para o porto, então tudo caminha para que o cacau possa ser evacuado”, disse Gbagbo.
Durante os quatro meses de crise pós-eleitoral, cerca de 400 mil toneladas de cacau ficaram acumuladas nos portos de Abidjan e de San Pedro (sudoeste). Em janeiro, Ouattara tinha pedido um embargo sobre as exportações de cacau, para que Laurent Gbagbo não pudesse obter lucros com o comércio de cacau. A Costa do Marfim continua sendo o primeiro produtor mundial de cacau e representa 35% da oferta mundial.
“De um a dois meses para a pacificação total do país”
No plano político, Alassane Ouattara anunciou que o rival dele, Laurent Gbagbo, capturado na segunda-feira, foi transferido do Hotel Golf em Abidjan até uma casa segura, no norte do país, mas sem menção específica ao local.
Ouattara destacou que sua prioridade é restabelecer a segurança no país, garantindo a retomada dos serviços de utilidade pública. Além disso, o novo presidente da Costa do Marfim disse que pediria ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, na Holanda, que investigue os massacres cometidos no país desde o segundo turno da eleição presidencial.
“A prioridade deverá ser livrar Abidjan e o resto do país dos milicianos e dos mercenários. Peço que baixem as armas imediatamente”, disse Ouattara, em coletiva de imprensa no Hotel Golf, onde fica a sua base. “Pedi destaque especial para que se encontrem as armas em Abidjan e em todo o país, e para que essas armas sejam apreendidas e queimadas”, acrescentando que as operações de apreensão seriam realizadas com a ajuda de forças imparciais (a missão da ONU no país, Onuci, e as forças francesas Licorne). “Uma vez que essas operações estiverem finalizadas, daqui a um ou dois meses, a pacificação da Costa do Marfim será total”, declarou Ouattara.
O diplomata Walter Lindner, responsável pela política africana no governo alemão, disse em entrevista à Deutsche Welle que os conflitos armados na Costa do Marfim precisam parar imediatamente. “Ainda há muitas armas e muita resistência armada. Ainda há atiradores escondidos, ou bandos que lutam por Laurent Gbagbo”, afirmou Lindner. “Mercenários poderão criar violências, ser autores de pilhagens e assim por diante, antes de voltarem aos países de origem. O mais importante agora é restabelecer a segurança no país. Só que isso deverá demorar um pouco, mesmo com os apelos à paz, tanto de Ouattara quanto de Gbagbo.”
“A democracia venceu na Costa do Marfim”
Para o diplomata, a situação da segurança na Costa do Marfim ainda é muito volátil, mas nada comparado ao que o país estava vivendo até a prisão de Laurent Gbagbo, na segunda-feira (11/4). “Que o vencedor reconhecido das eleições possa mudar para o palácio presidencial é uma vitória do povo no país”, avalia o representante do governo alemão. “Qualquer outro resultado teria tido conseqüências imprevisíveis para as cerca de 20 eleições que ainda vão acontecer este ano em África. Se Gbagbo tivesse ficado, a mensagem das eleições marfinenses seria: quem perde a eleição não precisa sair do poder. Fica esperando na sede da presidência e nada acontece.”
Autora: Renate Krieger (com Dirke Köpp e agências afp/rtr)
Revisão: António Rocha