1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Costa do Marfim retoma cotidiano sob tensão

13 de abril de 2011

Em Abidjan, ainda há cenas de violência. Mas, aos poucos, marfinenses parecem retomar vida normal. Presidente Alassane Ouattara anunciou que a exportação de cacau deverá recomeçar “imediatamente”.

https://p.dw.com/p/RHez
Crise causou êxodo na Costa do Marfim. Na imagem, pessoas se deslocam para fugir do país
Crise causou êxodo na Costa do Marfim. Na imagem, pessoas se deslocam para fugir do paísFoto: AP

Dois dias depois da prisão de Laurent Gbagbo, o presidente cessante da Costa do Marfim que não aceitou a derrota no segundo turno da eleição presidencial, realizada em novembro do ano passado, o cotidiano dos marfinenses parece voltar ao normal. Mas, segundo agências noticiosas, ainda há violência em vários bairros de Abidjan, a capital econômica da Costa do Marfim.

Os postos de gasolina estão funcionando, os táxis coletivos voltaram a transportar cidadãos de Abidjan, livres para ir e vir depois de dez dias trancados em suas casas por causa da violência causada pela ofensiva, nas últimas semanas, de forças leais a Alassane Ouattara (cuja eleição foi reconhecida pelas Nações Unidas e por grande parte da comunidade internacional). Testemunhas citadas pela agência Reuters teriam dito que a água corrente e a eletricidade foram restabelecidas na maior parte de Abidjan.

O porto de Abidjan deverá voltar a abrir na próxima segunda-feira, enquanto o presidente agora no poder, Alassane Ouattara, disse que a exportação de cacau deverá reiniciar imediatamente. “Assinei uma ordem na terça-feira. O porto de Abidjan está sob controle. Nomeei um diretor interino para o porto, então tudo caminha para que o cacau possa ser evacuado”, disse Gbagbo.

Durante os quatro meses de crise pós-eleitoral, cerca de 400 mil toneladas de cacau ficaram acumuladas nos portos de Abidjan e de San Pedro (sudoeste). Em janeiro, Ouattara tinha pedido um embargo sobre as exportações de cacau, para que Laurent Gbagbo não pudesse obter lucros com o comércio de cacau. A Costa do Marfim continua sendo o primeiro produtor mundial de cacau e representa 35% da oferta mundial.

“De um a dois meses para a pacificação total do país”

No plano político, Alassane Ouattara anunciou que o rival dele, Laurent Gbagbo, capturado na segunda-feira, foi transferido do Hotel Golf em Abidjan até uma casa segura, no norte do país, mas sem menção específica ao local.

Ouattara destacou que sua prioridade é restabelecer a segurança no país, garantindo a retomada dos serviços de utilidade pública. Além disso, o novo presidente da Costa do Marfim disse que pediria ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, na Holanda, que investigue os massacres cometidos no país desde o segundo turno da eleição presidencial.

Walter Lindner, responsável pela política africana no governo alemão
Walter Lindner, responsável pela política africana no governo alemãoFoto: picture-alliance/dpa

“A prioridade deverá ser livrar Abidjan e o resto do país dos milicianos e dos mercenários. Peço que baixem as armas imediatamente”, disse Ouattara, em coletiva de imprensa no Hotel Golf, onde fica a sua base. “Pedi destaque especial para que se encontrem as armas em Abidjan e em todo o país, e para que essas armas sejam apreendidas e queimadas”, acrescentando que as operações de apreensão seriam realizadas com a ajuda de forças imparciais (a missão da ONU no país, Onuci, e as forças francesas Licorne). “Uma vez que essas operações estiverem finalizadas, daqui a um ou dois meses, a pacificação da Costa do Marfim será total”, declarou Ouattara.

O diplomata Walter Lindner, responsável pela política africana no governo alemão, disse em entrevista à Deutsche Welle que os conflitos armados na Costa do Marfim precisam parar imediatamente. “Ainda há muitas armas e muita resistência armada. Ainda há atiradores escondidos, ou bandos que lutam por Laurent Gbagbo”, afirmou Lindner. “Mercenários poderão criar violências, ser autores de pilhagens e assim por diante, antes de voltarem aos países de origem. O mais importante agora é restabelecer a segurança no país. Só que isso deverá demorar um pouco, mesmo com os apelos à paz, tanto de Ouattara quanto de Gbagbo.”

“A democracia venceu na Costa do Marfim”

Para o diplomata, a situação da segurança na Costa do Marfim ainda é muito volátil, mas nada comparado ao que o país estava vivendo até a prisão de Laurent Gbagbo, na segunda-feira (11/4). “Que o vencedor reconhecido das eleições possa mudar para o palácio presidencial é uma vitória do povo no país”, avalia o representante do governo alemão. “Qualquer outro resultado teria tido conseqüências imprevisíveis para as cerca de 20 eleições que ainda vão acontecer este ano em África. Se Gbagbo tivesse ficado, a mensagem das eleições marfinenses seria: quem perde a eleição não precisa sair do poder. Fica esperando na sede da presidência e nada acontece.”

Autora: Renate Krieger (com Dirke Köpp e agências afp/rtr)

Revisão: António Rocha

Residentes de Abidjan passam diante de ponto de forças leais a Alassane Ouattara, durante as violências pós-eleitorais
Residentes de Abidjan passam diante de ponto de forças leais a Alassane Ouattara, durante as violências pós-eleitoraisFoto: AP