Costa do Marfim: Quem irá suceder a Ouattara na presidência?
10 de julho de 2020Amadou Gon Coulibaly, o primeiro-ministro da Costa do Marfim, que faleceu na quarta-feira (08.07), estava bem lançado para suceder a Alassane Ouattara na presidência do país, ainda este ano. Coulibaly era considerado favorito para suceder ao atual chefe de Estado, que não pretende voltar a concorrer.
Tido como homem próximo ao chefe de Estado, Coulibaly, de 61 anos, tinha regressado de França, onde esteve em tratamento médico durante uma semana. Ao presidir à reunião do conselho de ministros, sentiu-se mal e foi levado para uma clínica onde acabou por não resistir aos problemas relacionados com o coração.
Um país em estado de choque
Nas ruas da capital, Abidjan, a notícia foi recebida com pesar por muitos. "Penso que teria sido melhor para ele e para a sua saúde se tivesse ficado na Europa e se se tivesse demitido do cargo de primeiro-ministro. Ele também deveria ter renunciado à sua candidatura à presidência", disse um jovem marfinense à DW.
A notícia da sua morte gerou uma onda de reações um pouco por todo mundo, mas principalmente na Costa do Marfim, diz Florian Karner, chefe do gabinete da Fundação alemã Konrad Adenauer, em Abidjan.
"Pela reação das pessoas, podemos constatar que o país está em choque, porque foi uma morte súbita. Esse estado de choque pode durar mais alguns dias, já que o foco vai para a preparação do funeral e depois haverá discussões publicas sobre o seu sucessor", considera.
O Presidente Ouattara considerava Amadou Gon Coulibaly um "modelo para a juventude", recorda tambémThilo Schöner, que dirige o escritório da Fundação alemã Friedrich Ebert em Abidjan.
Além da cirurgia cardíaca em 2012, Coulibaly já tinha sofrido vários ataques do coração. A União Africana, os Estados Unidos, os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, entre outros, lamentaram a morte do primeiro-ministro da Costa do Marfim.
Quem será o sucessor?
Thilo Schöner lembra que até à revisão constitucional em 2016, os candidatos ao cargo do primeiro-ministro tinha que apresentar um certificado de saúde que confirmasse ter condições para liderar o Governo. O artigo foi excluído da nova Constituição. "Na altura, a oposição já se referia a Gon Coulibaly. Nos bastidores, já há muito tempo que se discutia se ele era sequer capaz de exercer este cargo e infelizmente tornou-se claro que não", afirma.
O partido do Presidente Ouattara, o RHDP, no poder, tem de escolher o sucessor de Gon Coulibaly o mais rapodamente possível, já que as candidaturas às presidenciais de outubro devem ser entregues oficialmente até finais de julho. "Sei que não existe um plano B", diz Schöner.
O candidato mais promissor é o atual ministro da Defesa, Hamed Bakayoko, de 55 anos, que já exerceu o cargo do chefe interino do Governo durante dois meses, na ausência de Coulibaly.
"Ele estabeleceu padrões completamente diferentes no campo da comunicação, talvez também devido à sua idade. No geral, era muito próximo da população. Durante as últimas inundações no país, esteve no local, falou com as famílias afetadas, algo que normalmente não se vê políticos a fazer aqui", considera Thilo Schöner.
Florian Karner, da Fundação Konrad Adenauer, também vê Bakayoko na linha da frente. Mas falta-lhe o apoio do seu próprio partido e possivelmente também do Presidente cessante. Segundo Karner, outros candidatos estão mais próximos de Ouattara, incluindo o chefe do gabinete presidencial, Patrick Achi, que confirmou oficialmente a morte do primeiro-ministro e leu a declaração do Presidente. Amadou Soumahoro, o atual Presidente do Parlamento, seria também alguém que poderia entrar na corrida, acrescenta.
Ouattara novamente na corrida?
Alassane Ouattara, de 78 anos, foi muito elogiado em março, tanto na Costa do Marfim como no exterior, pela sua decisão de não se candidatar novamente ao cargo de Presidente. Mas após a morte de Coulibaly, não é impossível a hipótese de uma candidatura a um terceiro mandato, acreditam alguns observadores.
Thilo Schöner, da Fundação Friedrich Ebert, ainda não vê sinais disso, até porque Ouattara, na verdade, "é alguém que sempre manteve a sua palavra", lembra Schöner, que também refere a idade avançada e o estado de saúde do Presidente.
Uma eventual recandidatura poderá depender de quem surgir como sucessor de Coulibaly e se Ouattara se sentirá forçado a concorrer novamente para evitar que alguém que considere inadequado entre na corrida. As possibilidades de a oposição ganhar as eleições são consideradas fracas.