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Covid-19: Choque económico "mais profundo" na Guiné-Bissau

Lusa | cvt
19 de abril de 2020

Para diretora-nacional do BCEAO para a Guiné-Bissau, Helena Nosolini Embaló, crise sanitária combinada às incertezas na campanha da castanha de caju pode resultar em graves implicações para a economia guineense.

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Cashew-Kooperative in Guinea-Bissau
Foto: Gilberto Fontes

"No conjunto das oito economias da sub-região, na Guiné-Bissau o choque poderá ser muito mais profundo porque a nossa economia tem suas especificidades ou, se quisermos ser mais precisos, as suas debilidades que a tornam muito vulnerável", afirmou este domingo (19.04) a diretora-nacional do Banco Central dos Estados da África Ocidental para a Guiné-Bissau (BCEAO), Helena Nosolini Embaló, em entrevista à Lusa.

A Guiné-Bissau, que faz parte da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), que inclui também o Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo, tem uma forte dependência do processo de comercialização e exportação da castanha de caju, que representa mais de 90% das exportações do país. 

"Ora, sendo as incertezas e os riscos quanto à campanha deste ano enormes, haverá consequentemente implicações graves, sendo certo que esta atividade dinamiza quase todos os setores da vida económica nacional", disse Helena Nosolini Embaló, salientando que a campanha de comercialização de caju é uma "forte alavanca para as finanças públicas do país". 

Segundo a diretora-nacional do BCEAO na Guiné-Bissau, ao cenário de incerteza em relação à campanha de comercialização de caju acresce o facto de quase tudo o que é consumido na Guiné-Bissau vir do exterior.

"As restrições no comércio internacional terão um forte impacto e vão afetar um grande número de famílias, sobretudo as que vivem abaixo do limiar da pobreza", sublinhou.

Helena Nosolini Embaló destacou também que o peso "muito significativo" do setor informal no país pode "dificultar o monitoramento e a aplicação de medidas de mitigação".

"Com as medidas de contenção implementadas e necessárias todas as atividades serão impactadas e a escala poderá ser maior para as pessoas com empregos precários, principalmente no setor informal", disse.

Para a responsável, em todas as economias a "perda de empregos será muito significativa e constituirá um grande desafio" para os países da UEMOA.

Setor privado

Ainda segundo Helena Nosolini Embaló, o impacto da crise sanitária no setor privado no país vai ser acentuado porque se trata de empresas pequenas.  

"No caso da Guiné-Bissau, o impacto desse choque é acentuado devido à própria natureza e à situação do setor empresarial - as empresas são na sua maioria de pequena dimensão, pouco capitalizadas, e outras enfrentando uma situação financeira frágil", afirmou Helena Nosolini Embaló, em entrevista à Lusa. 

O BCEAO anunciou já uma série de medidas para permitir aos bancos continuarem a apoiar as empresas e para criar condições para uma retoma eficaz, incluindo a moratória no pagamento de créditos concedidos pelas instituições bancárias às empresas.

"As empresas afetadas pela pandemia da Covid-19, desde que o solicitem ao sistema bancário, podem beneficiar do prolongamento do vencimento dos empréstimos, por um período de três meses renovável uma vez, sem custos adicionais (juros, taxas ou multa)", salientou Helena Nosolini Embaló.  

A responsável sublinhou que a medida vai permitir "reduzir as tensões de tesouraria das empresas envolvidas e preservar a qualidade da carteira dos bancos".

"Importa referir que esta crise não tem precedentes e as respostas devem ser coordenadas com o envolvimento de todas as partes", afirmou, referindo-se ao Estado, parceiros internacionais, instituições regionais, banco central, sociedade civil e empresas.

Para Helena Nosolini Embaló, está em causa a vida humana e a proteção da saúde das pessoas e uma forte solidariedade é crucial para debelar os efeitos da crise.

"Além dos apoios ao setor da saúde, os demais setores, sobretudo os mais afetados, não devem ser descurados, sob pena de destruição do capital produtivo através da falência de empresas", disse.

A diretora nacional do BCEAO considerou também que as empresas devem "mostrar resiliência" e adaptarem-se da "melhor maneira possível" ao atual e difícil contexto.

"Esta crise preocupa o mundo e a prioridade deve ser o combate a esta pandemia. Para que a resposta seja adequada e eficaz ela deve ser global", insistiu.

Covid-19: Retrato da Guiné-Bissau em estado de emergência

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