Guterres alerta para sequelas da pandemia pós-vacina
4 de dezembro de 2020O secretário-geral das das Nações Unidas, António Guterres avisou quinta-feira que o impacto social e económico da COVID-19 "é enorme e crescente''. Guterres acrescentou ser um engano acreditar que a vacina só por si pode desfazer os danos globais causados pela pandemia.
As consequências vão sentir-se durante anos ou mesmo décadas, acrescentou Guterres na sessão extraordinária da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que começou ontem e se prolonga até sexta-feira (04.12), e debate uma resposta à pandemia do novo coronavírus.
No discurso de abertura da sessão, o secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou os países que não estão a gerir a pandemia da Covid-19. Reforçou que "desde o início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou e orientou cientificamente sobre como deveria ter sido a base para uma resposta global coordenada contra a pandemia."
"Infelizmente, muitas dessas recomendações não foram seguidas. E, quando cada país caminha na própria direção, o vírus vai em todas as direções", alertou o secretário-geral do ONU, acrescentando que no combate à pandemia "sistemas de saúde mais fortes e cobertura universal de saúde devem ser prioridades."
"A pandemia da Covid-19 é a sexta emergência internacional de saúde pública declarada pela OMS desde 2007, mas não será a última", vincou.
Acesso equitativo a vacinas
Numa mensagem de vídeo pré-gravada e veiculada durante a sessão especial da ONU de quinta-feira (03.12), a chanceler alemã Angela Merkel alertou também para a importância da cooperação internacional:
"Apesar de todas as dificuldades vividas este ano no decorrer da pandemia, há uma luz ao fundo do túnel. No entanto, não devemos esquecer que a pandemia só pode ser derrotada de forma duradoura, se todos no mundo tiverem acesso equitativo a vacinas eficazes."
Para Merkel, derrotar a pandemia de forma duradoura "também significa fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, mas com olhos nos desafios e crises futuras. Para isso, precisamos de uma cooperação internacional mais estreita. Também, e acima de tudo, com organizações internacionais mais fortes."
Tratado internacional sobre pandemias
Durante a sessão de quinta-feira, a União Europeia (UE) propôs à ONU um tratado internacional sobre pandemias, com objetivo de monitorar os riscos de transmissão de doenças infeciosas, além de financiamentos e investigações.
"Este tratado deve ser firmado no âmbito da Organização Mundial da Saúde, que é a base da cooperação internacional contra as pandemias. Isso complementaria e reforçaria a nossa ação. As outras organizações e agências internacionais interessadas também devem ser envolvidas", indicou Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu.
Entre os objetivos que a UE pretende dar ao tratado, encontram-se a monitorização de riscos de transmissão de doenças infeciosas de animais para humanos, o financiamento e investigações coordenadas "para desenvolver uma capacidade de resposta científica e industrial rápida" e uma escala de alertas e partilha de informações mais extensiva e transparente.
Segundo Charles Michel, o tratado também deveria servir para "garantir acesso universal a vacinas, tratamentos e testes para futuras pandemias" e melhorar a resiliência e resistência de sistemas de saúde em todos os países.
Vacinas para os PALOP
Enquanto os líderes mundiais debatiam uma resposta à pandemia de Covid-19, na quinta-feira o ministro da Saúde de Moçambique anunciou que o país terá direito a seis milhões de doses de vacina contra a Covid-19.
Segundo Armindo Tiago, essas doses correspondem a 20% da população, estimada em 30 milhões, e inserem-se no âmbito das regras definidas na iniciativa global COVAX para acesso equitativo à inoculação.
"Atualmente, o Ministério da Saúde está a definir os requisitos e condições para a definição dos grupos a serem vacinados e ainda o processo da estratégia de vacinação", acrescentou o ministro.
Os restantes Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) também estão abrangidos pela iniciativa COVAX, que prevê uma hierarquização, consoante as necessidades de cada país.
Por outro lado, na África do Sul, o Presidente Cyril Ramaphosa anunciou quinta-feira (03.12) um novo confinamento, mais restrito na província do Cabo Oriental, para conter o aumento de infeções e internamentos hospitalares devido ao coronavírus.
Em África há mais 50 mil mortos confirmados, e mais de dois milhões de infetados em 55 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente. O número de infetados representa 3,5% do total global, mas mostra "sinais claros" de um segundo surto em alguns países, segundo alertou nesta quinta-feira o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (Africa CDC).