Covid-19: África pode registar mais de 150 mil mortes
15 de maio de 2020Um novo estudo de modelação da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, no primeiro ano da pandemia, quase 250 milhões de pessoas em África poderão ser infetadas pelo novo coronavírus e até 190 mil podem morrer, caso não sejam adotadas medidas urgentes. A estimativa foi publicada esta sexta-feira (15.05) na revista científica BMJ Global Health.
Segundo os autores do estudo de modelação preditiva, estes números revelam taxas de exposição e propagação viral inferiores às de outras partes do mundo.
No entanto, os investigadores alertam que o aumento associado das admissões hospitalares, das necessidades de cuidados e do impacto sobre outras condições de saúde em África exerceria uma forte pressão sobre os recursos de saúde limitados naquele continente e agravaria o impacto do novo coronavírus.
Fatores sociais
A estimativa tem em conta características exclusivas da região e de cada país, nomeadamente fatores sociais, de desenvolvimento, ambientais e de saúde da população, que, indicam os autores, afetam a propagação do vírus e a gravidade da Covid-19.
O estudo aponta que a pandemia pode propagar-se mais lentamente em África, com menos casos graves e mortes do que noutras partes do mundo, como os Estados Unidos da América e a Europa, mas é provável que se prolongue por mais tempo, e possivelmente por vários anos.
Sem medidas adequadas para controlar a propagação do vírus, as estimativas indicam um risco mais elevado de exposição em países pequenos, refere, apontando as Maurícias entre os Estados mais vulneráveis, enquanto países com pouca população, como Níger, Mauritânia e Chade, são provavelmente menos vulneráveis.
Maior número de casos
Levando em consideração o número de habitantes e as condições financeiras dos países, os cálculos dos investigadores colocam a Guiné Equatorial, Maurícias e Seicheles como os países que teriam provavelmente as percentagens mais elevadas de pessoas infetadas.
Entre os grandes países da região, Camarões, África do Sul e Argélia seriam os que estariam em maior risco, enquanto a Nigéria seria o país que registaria o maior número de casos positivos, seguido da Argélia e África do Sul.
África em perigo
No total, cerca de uma em cada quatro (22%) das mil milhões de pessoas em África ficariam infetadas nos primeiros 12 meses (cerca de 231 milhões), estimando-se que entre 37 a 33 milhões poderiam ter sintomas.
Para a OMS, a região de África abrange 47 países, mas exclui Djibuti, Egito, Líbia, Marrocos, Somália, Sudão e Tunísia.
O estudo refere ainda que entre 4,6 milhões a 5,5 milhões de pessoas teriam de ser hospitalizadas, com 140 mil a sofrer uma infeção grave e 89 mil ficariam gravemente doentes. A estimativa aponta para 150 mil mortes, mas admite que o número possa chegar aos 190 mil.
Além disso, o aumento associado das admissões hospitalares e das necessidades de cuidados de saúde desviaria recursos já limitados utilizados para fazer face às principais questões de saúde na região, como o HIV, a tuberculose, a malária e a subnutrição, agravando efetivamente o impacto do novo coronavírus, alertam os investigadores.
A situação é agravada pelo fato de alguns dos internamentos hospitalares ocorrerem em zonas onde o acesso aos serviços de saúde já é deficiente, em especial para os mais desfavorecidos, e pela limitada capacidade de teste e diagnóstico e insuficientes sistemas de monitorização e recolha de dados.
Os investigadores descrevem ainda como fundamental o êxito das medidas de confinamento, como o rastreio dos contatos, o isolamento, a lavagem das mãos e o distanciamento físico.
O número de mortos da Covid-19 em África subiu esta sexta-feira (15.05) para os 2.556, com mais de 75 mil infetados em 54 países, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC).
Nas últimas 24 horas, o número de mortos subiu de 2.475 para 2.556, enquanto os infetados passaram de 72.336 para 75.447. O número total de doentes recuperados aumentou de 25.268 para 27.227.