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Estado de DireitoMoçambique

Crise para uns, regalias para outros? Moçambicanos protestam

Leonel Matias (Maputo)
11 de maio de 2021

Fórum de Monitoria do Orçamento exige a deputados que recuem na atribuição de regalias a funcionários parlamentares e ameaça recorrer ao Conselho Constitucional. Estudante detido durante protesto em Maputo foi libertado.

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Parlamento moçambicano (foto de arquivo)Foto: DW/L.Matias

A polícia deteve esta terça-feira (11.05) um manifestante quando um grupo de estudantes da Universidade Eduardo Mondlane protestava contra a recente aprovação pelo Parlamento na generalidade e por consenso de regalias para funcionários e agentes parlamentares.

A manifestação foi considerada ilegal pela polícia, que destacou um forte contingente para a praça da Independência, ponto de partida de uma marcha até ao Parlamento. Os manifestantes empunhavam panfletos com dizeres como "não ao roubo legalizado".

O estudante detido foi levado à esquadra da polícia, e os seus colegas concentraram-se no exterior do edifício para exigir a sua libertação. 

Um dos representantes do grupo, falando na condição de anonimato, disse aos jornalistas: "Quase todos nós tínhamos panfletos, não sabemos porque é que 'cismaram' tanto em querer levar o rapaz".

"O que deve ficar claro é que nós não estávamos a criar nenhum distúrbio", continuou o estudante. "Não tentámos vandalizar nenhum estabelecimento público ou privado, não tentámos vandalizar nada, simplesmente estávamos a tentar manifestar aquilo que é o nosso desagrado mediante a aprovação do estatuto dos agentes parlamentares."

A Associação dos Estudantes da Universidade Eduardo Mondlane emitiu um comunicado no qual se distancia da manifestação.

Entretanto, o estudante já foi libertado, noticiou ao final da tarde a agência de notícias Lusa.

 

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"Não concordamos"

O projeto de lei, que atribui regalias aos funcionários e agentes parlamentares, está a ser fortemente contestado na sociedade desde a sua aprovação pelo Parlamento na última quarta-feira (05.05).

Muitos cidadãos queixam-se que, apesar do custo de vida encarecer diariamente, o salário mínimo não foi reajustado tanto em 2020 como no presente ano pelo Governo e setor privado, alegadamente devido às dificuldades que o país atravessa.

Esta terça-feira de manhã, o Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) depositou uma petição no Parlamento para contestar a aprovação do projeto de lei.

Prof. Adriano Nuvunga
Adriano Nuvunga Foto: Roberto Paquete/DW

"Não concordamos com esse tratamento desigual dentro da Função Pública", afirmou Adriano Nuvunga, coordenador desta plataforma que congrega várias organizações da sociedade civil.

Nuvunga recordou que "estamos a atravessar neste momento a maior crise, estamos a passar pela situação de Cabo Delgado, onde os nossos militares não têm os recursos básicos para conseguirem defender os cidadãos e proteger os direitos humanos, estamos a passar pelo período da Covid-19, em que os hospitais não têm condições básicas para atender a nossa população, e os enfermeiros e os médicos estão a 'fazer das tripas coração' para conseguir atender os pacientes".

Por tudo isso, este não é o momento para atribuir regalias aos funcionários do Parlamento, afirmou o também diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD).

"Vamos recorrer ao Conselho Constitucional"

A DW África apurou que o Parlamento retirou da agenda inicialmente prevista para quarta-feira (12.05) o debate seguido da votação em definitivo do projeto de lei sobre o estatuto dos funcionários e agentes parlamentares. 

Adriano Nuvunga deixa um aviso: "Se aprovarem [o projeto de lei em definitivo], vamos recorrer ao Conselho Constitucional".

O responsável do CDD diz que as riquezas geradas no Estado devem ser partilhadas por todos os moçambicanos. "Não queremos setores específicos a protegerem-se entre si, isso é uma forma de promover a corrupção".

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