Curta-metragem "Kutxintxa” é finalista em concurso
12 de novembro de 2016Em Mahalene, a 93 quilómetros de Maputo, homens, mulheres e crianças percorrem de 15 a 30 quilómetros todos os dias para obter água. Se a encontram, chegam a compartilhá-la com animais. O triste cenário inspirou o moçambicano Ivan Mauro a produzir o curta-metragem "Kutxintxa".
A palavra significa na língua local Changana "o clima está a mudar”. O filme aborda os efeitos da seca no país e alerta sobre os efeitos das mudanças climáticas. Segundo o diretor, os habitantes de Mahalene têm esperanças de que o filme, após ser visto pelo mundo, possa trazer alguma mudança para a comunidade.
A motivação do diretor de Ivan Mauro, nascido no Dondo, em Moçambique, é também fazer um alerta político aos países industrializados para mostrar que em África as populações rurais são mais vulneráveis às mudanças climáticas – um problema que não se restringe à Moçambique.
Em entrevista à DW, Sönke Kreft, especialista alemão em política internacional para o clima, diz que a África é um dos continentes mais afetados pelas secas e alagamentos. "Isso acontece porque o continente é extremamente dependente da economia agrícola, essencial para a subsistência de muitos", afirma.
Segundo o analista da Germanwatch, que acompanha a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP22) em Marraquexe, o mais recente levantamento da organização aponta que, dentre os dez países mais afetados pelas mudanças climáticas, quatro são africanos.
Ainda que a África não produza gás carbónico como os Estados Unidos, China e União Europeia – grandes poluidores – o continente é o que mais sofre. Por isso, Sönke Kreft defende o apoio das nações industrializadas ao continente.
Por outro lado, o diretor que esteve nas comunidades afetadas pela seca acredita que as autoridades de Moçambique precisam se empenhar em busca de recursos financeiros internos ou externos para reforçar o sistema de aviso prévio nas comunidades afetadas pela falta d'água.
Cinema para consciencializar
O cinema pode consciencializar seus expectadores, acredita Ivan Mauro. Por isso, ele buscou uma história "em que as pessoas vissem o que está a acontecer por causa das mudanças climáticas”, diz.
O filme foi produzido em dois dias. Com orçamento reduzido, foi submetido para o concurso do Connect4Climate, do Banco Mundial, apenas uma semana antes do encerramento das inscrições.
Além das dificuldades técnicas para produzir o filme,a língua Changana, falada pela comunidade local, foi um obstáculo que o diretor precisou superar buscando ajuda para se comunicar, já que não fala o idioma.
Desejo de mudança
Com desejo de mudança, Ivan Mauro revela ser um sonho ganhar o prémio do concurso, mas pretende fazer mais: "eu quero fazer pacotes de consciencialização e projetos nas comunidades mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas”, revela.
Por causa do "Kutxintxa", o autor recebeu o convite do Projecto Adaptação às Mudanças Climáticas nas Zonas Costeiras de Moçambique, sendo financiado pelo PNUD para filmar acções de Mudanças Climáticas a nível nacional, nomeadamente nas províncias de Cabo Delgado (Norte), Zambézia (Centro) e Inhambane (Sul).
Fato é que com o filme o diretor já deu o primeiro passo para alertar sobre o aquecimento global. Mas Ivan Mauro sugere reflexão sobre as vítimas da seca, para as quais falta água até mesmo para beber. "Qualquer ser humano sentir-se-ia constrangido diante do que vi", diz.