Dívidas ocultas: Ângela Leão nega ligações à Privinvest
16 de setembro de 2021Ângela Leão, casada com o antigo diretor do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), Gregório Leão, negou qualquer relação com a Privinvest ou com outras entidades ligadas ao grupo envolvido no maior escândalo financeiro do país. A ré disse esta quinta-feira (16.09) em tribunal que só ouviu falar da Privinvest pela imprensa.
A arguida é acusada de ter recebido 1,7 milhões de dólares através da conta do empreiteiro Fabião Mabunda, acusações que refuta.
O juiz da causa, Efigénio Baptista, mostrou-lhe um e-mail em que ela interage com Fabião Mabunda a propósito da confirmação do recebimento do montante. O magistrado revelou também extratos bancários que confirmariam as transferências.
"Como é que se explica que, no dia 12 de maio de 2014, a senhora tenha enviado um e-mail ao senhor Mabunda para que este confirmasse se o dinheiro transferido da Privinvest refletiu na sua conta?", questionou o juiz.
"Não tenho como explicar, porque não mandei nenhum e-mail ao grupo, que não conheço nem nunca ouvi falar. De onde foi extraído esse e-mail?", retorquiu.
Ângela Leão alega viciação de documentos
O juiz Efigénio Baptista explicou que os e-mails foram extraídos do computador do seu empreiteiro, Fabião Mabunda. Ângela Leão reagiu dizendo que os documentos do Ministério Público (MP) poderiam ter sido viciados.
"E esse computador de Mabunda, abriram à frente dele ou foram abrir sozinhos à parte? Como é que vamos apurar a veracidade desses documentos? E se forem viciados, meritíssimo?", insistiu.
"Muito bem, senhora Ângela. Agora responda à minha pergunta: não enviou esse e-mail?", voltou a perguntar Efigénio Baptista. "Não, não enviei", afirmou a arguida.
Fabião Mabunda, gestor das empreitadas de Ângela Leão, que esteve envolvido na construção de alguns imóveis em Maputo, confirmou em tribunal a transferência dos 1,7 milhões de dólares.
Arguida pedia dinheiro emprestado aos amigos
A empresária do ramo imobiliário confirmou ser proprietária de um imóvel com 10 apartamentos no bairro da Costa do Sol, na zona nobre de Maputo, sendo que parte do mesmo foi construído pela empresa M.Moçambique de Fabião Mabunda.
"Confirma que instruiu o senhor Mabunda a pagar ao senhor Sidónio este imóvel da Cândida Cossa de três pisos a 900 mil dólares?", perguntou o juiz.
"Meritíssimo, não gostaria de falar ou de partilhar [informação] sobre os meus imóveis aqui neste lugar, neste tribunal, porque é a minha vida particular, mas confirmo que pedi ao senhor Mabunda para fazer certos pagamentos ao Sidónio", informou a arguida.
A procuradora Sheila Marrengula perguntou ainda a Ângelo Leão sobre de que forma tinha adquirido os imóveis. A ré respondeu: "Eu pedia dinheiro emprestado e não só ao Mabunda, mas a vários amigos empresários. Quando identifico uma determinada obra ou imóvel, procuro todos os meios financeiros para poder adquirir esses imóveis. Posso não ter dinheiro, mas não deixo de conseguir aquele objetivo por não ter dinheiro. Vou negociando com as pessoas e vou pagando aos poucos. Quando eu tenho informações, conhecimentos de que este me pode ajudar, vou atrás. Peço emprestado e depois devolvo", justificou.
Ângela Leão está entre os 19 arguidos acusados de terem delapidado o Estado moçambicano, deixando-o como uma dívida superior a 2,2 mil milhões de dólares.