Desova de tartarugas em Cabo Verde bate recorde
28 de dezembro de 2012
Na ilha do Sal, o número de tartarugas que saíram para desovar e o número de ninhos foi quatro vezes maior do que no ano passado, adiantou Selma Neves, da SOS Tartarugas, organização que se dedica à protecção da espécie em Cabo Verde. A organização contabilizou aproximadamente 2400 ninhos e cerca de 6000 rastros de tartarugas.
Cabo Verde seguiu a tendência mundial em termos de desova das tartarugas, uma espécie em vias de extinção, segundo os dados preliminares da SOS Tartarugas. “Em todo o mundo houve um aumento de desova. Por exemplo, na Florida, que é responsável pela maior desova no mundo, houve um significativo aumento da procura”, referiu ainda Jacquie Cozens, também da SOS Tartarugas.
Em 2012, a taxa de mortalidade da espécie foi muito baixa nas praias que foram protegidas por esta organização, mas o mesmo já não se pode dizer relativamente às praias sem proteção. “Temos conseguido proteger mais tartarugas nas praias em que fazemos a patrulha, mas ainda há praias que não são patrulhadas e, portanto, há matanças”, relata a activista, lamentando que a mensagem que a sua organização tem passado “ainda não atingiu todas as pessoas”.
Cozens e muitos outros activistas lançaram, esta quarta-feira (26.12.2012), uma petição mundial para impedir que uma cadeia hoteleira internacional construa um quebra-mar constituído por três esporões na praia do Algodoeiro, em Santa Maria, na ilha do Sal. Segundo Selma Neves, o projeto terá impactos devastadores no ecossistema local.
Hotéis e luzes brilhantes prejudicam desova
Segundo Jacquie Cozens, a desova de tartarugas na praia de Algodoeiro tem diminuído por causa da construção de hotéis e da colocação de luzes brilhantes que só perturbam a espécie. “Desde que começamos a fazer a patrulha nesta praia, 30% de todas as tartarugas da ilha do Sal nidificavam aqui”, relata, sublinhando que “agora essa praia é responsável por 17% das tartarugas que saem para desovar”.
Cozens argumenta que algumas cadeias hoteleiras deviam associar o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente mediante pequenas atitudes, nomeadamente evitar luzes brilhantes nas praias, não construir tão perto da linha do mar e não colocar barreiras que podem impedir as tartarugas de sair para desovar.
As ilhas de Cabo Verde constituem o segundo ponto mais importante de nidificação das tartarugas marinhas em todo o mundo. Todos os anos, mais de 4.000 tartarugas Caretta Caretta escolhem Cabo Verde como local de desova.
Autor: Nélio dos Santos (Cidade da Praia)
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha