Dívidas ocultas: Arguido insiste que Nyusi vá a tribunal
14 de outubro de 2021O tribunal que julga as dívidas ocultas pediu, na audição desta quinta-feira (14.10), ao réu António Carlos do Rosário para mencionar todas as pessoas que estiveram nas reuniões do comando operativo das Forças de Defesa e Segurança, que tem sido citado frequentemente no julgamento.
Terá sido o comando a aprovar o projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva, que a acusação considera ter sido um "esquema" criminoso.
Segundo o juiz Efigénio Baptista, o arguido tem mencionado sempre os mesmos três nomes em relação às decisões para criar as três empresas do projeto: "O réu, Gregório Leão [o antigo diretor-geral da secreta] e o próprio coordenador" do comando operativo, que na altura era Filipe Nyusi, o então ministro da Defesa.
"Porque não chamar" Filipe Nyusi?
O magistrado quis saber quem mais estava nessas reuniões, para que possa chamar essas pessoas a tribunal.
"Diga os nomes dessas pessoas! Não sei por que não diz os nomes, porque o tribunal havia de chamar para perguntar", afirmou Efigénio Baptista.
Em resposta, o ex-gestor das empresas beneficárias das dívidas ocultas, que lesaram o Estado em 2,2 mil milhões de dólares, insistiu que se chamasse a tribunal Filipe Nyusi.
"Já que a ideia é chamar as pessoas, porque não chamar o coordenador do comando operativo para nos explicar, o então ministro, como já havíamos solicitado?", questionou António Carlos do Rosário.
Nyusi terá sugerido garantia
O arguido disse que foi Nyusi quem sugeriu a emissão de uma garantia de 850 milhões de dólares a favor de uma das empresas no projeto, a Ematum. Também teria sido Filipe Nyusi a recomendar que se negociasse com o banco russo VTB Capital uma fatia do financiamento, de 350 milhões de dólares.
"O banco VTB foi-me indicado pelo coordenador do comando operativo", disse António Carlos do Rosário. "Eu estava no gabinete e, atendendo às dificuldades que estávamos a ter com a operação inicial por causa do Credit Suisse, ele sugeriu que contactássemos o banco VTB."
Ainda de acordo com o réu, foi Nyusi que criou a estrutura acionista da Ematum, na sua presença e do co-arguido, Gregório Leão.
"Não pressupunha ter estudo para indicar os acionistas. Os acionistas são indicados mediante recomendação do coordenador", referiu por fim António Carlos do Rosário, que é considerado a peça-chave no julgamento do maior escândalo de corrupção na história de Moçambique.