Eleições angolanas podem fortalecer oposição, diz jornalista alemão
28 de agosto de 2012
"Atualmente a situação econômica em Angola certamente não é ruim. Ela é um pouco mais fraca do que há cerca de 3 ou 4 anos". A avaliação é do jornalista Wolfgang Drechsler, correspondente na África Austral do jornal alemão Handelsblatt, que tem como focos principais economia e política.
Drechsler lembra o boom econômico pelo qual Angola passou, entre os anos de 2004 e 2008, quando alcançou um dos maiores crescimentos econômicos em África. "Foram cerca de 17%. No ano de 2007, até mesmo 22%. Desde então, desde 2008, caiu um pouco porque o preço do petróleo diminuiu. E para este ano, deseja-se novamente uma taxa de crescimento de 10 a 12%", estima o jornalista alemão.
Percebe-se assim o quão forte a economia angolana é dependente de matéria-prima, bem como todas as economias africanas, garante Drechsler. "Se o petróleo vai bem, Angola vai bem. Ou pelo menos os ricos em Angola. Quando o petróleo não vai bem, então a economia perde imediatamente."
Modernização versus concentração de renda
De acordo com o jornalista alemão, o crescimento econômico resultou em investimentos no país, que passou por uma modernização. "Na capital, é possível ver modernos prédios de escritórios, hotéis e apartamentos. Investiu-se dinheiro em construção civil e em ruas", relata.
Wolfgang Drechsler aponta a concentração de renda pela elite angolana como um dos grandes problemas do país, mas a lista de desafios que Angola enfrenta é mais longa.
"Em Angola, somas milionárias desapareceram em negócios relacionados ao petróleo, pelas quais ninguém presta contas", lembra. "A expectativa de vida ainda permanece em torno dos 50 anos, a mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo, e mais de um quarto da população é analfabeta", enumera Drechsler.
O jornalista alemão critica ainda o alto custo de vida na capital angolana, que, somado à concentração de renda, estaria impedindo a maioria dos cidadãos de participar dos benefícios que o crescimento econômico trouxe.
"É na verdade absurdo que Luanda, depois de Tóquio, seja a segunda cidade mais cara do mundo, porque o país não produz nada além de petróleo. Nenhum parafuso, nenhum vinho, nenhum ovo, nada! Tudo tem que ser importado a custos caros e as pessoas não têm o dinheiro para comprar essas coisas, exceto as pessoas que se sentam lá em cima", afirma.
Eleições
Falando de suas expectativas para as eleições gerais de 31.08, esta sexta-feira, o jornalista alemão não se mostra muito animado. Mas diz acreditar que, do ponto de vista político, a oposição possa sair fortalecida do pleito.
"A UNITA [principal partido da oposição] poderia subir a sua participação de 10 para 15%. Isso ainda não é muito para ser uma oposição forte que pressiona o governo a fazer reformas políticas, mas pelo menos um leve rompimento ou pelo menos uma manutenção da cuidadosa abertura política já seria um passo real que poderia talvez levar o país adiante, a uma democracia realmente um pouco mais forte", avalia.
Autores: Ludger Schadomsky/Cris Vieira
Edição: Renate Krieger/António Rocha