UE não vê condições para eleições justas no Congo
17 de março de 2016Após 30 anos no poder, o Presidente cessante, Denis Sassou Nguesso, enfrenta oito rivais na tentativa de conquistar um terceiro mandato nas eleições presidenciais da República do Congo no domingo, 20 de março. A candidatura de Sassou Nguesso tornou-se possível em outubro, após a população ter dito sim, num controverso referendo, a uma emenda constitucional. Na altura, quatro pessoas morreram em confrontos entre apoiantes do chefe de Estado e militares. Agora, mais de dois milhões de eleitores são chamados a decidir se Sassou Nguesso assume a Presidência congolesa em mais um mandato de sete anos.
Os seus adeptos não têm dúvidas que o Presidente vai ser reeleito. Bernadin Gavet, o porta-voz da juventude do Partido Congolês do Trabalho, na equipa de campanha eleitoral de Sassou Nguesso, acha que as razões para votar em Sassou-Nguesso são óbvias: “É preciso ser cego para ignorar os aeroportos e estradas que foram construídos, os contratos concluídos, os investidores. É o candidato dos jovens, é o favorito.”
Saudades da democracia
Sassou Nguesso vê-se como um garante da paz e do desenvolvimento. Na sua página na internet anuncia que 17 mil km de estrada foram recentemente construídos em todo o país. Lidera o Congo desde 1979 – com uma pausa de cinco anos. Aos olhos dos seus adversários, as últimas décadas foram um impasse. Um apoiante do candidato da oposição Jean-Marie Michel Mokoko, acusa: “É uma ditadura. Os jovens não têm trabalho, os nossos pais também não. O desemprego está a subir. Já chega, queremos o melhor do Congo, como era antes.”
Trata-se de uma alusão aos anos entre 1992 e 1997 quando o país era liderado pelo governo democrática de Pascal Lissouba. Depois, veio a guerra civil. E Denis Sassou Nguesso regressou novamente ao poder com a força das armas.
A espoliação do país pelo clã do Presidente
Andreas Mehler, investigador especializado na África Central do Instituto alemão Arnold Bergsträsser de pesquisa sociocultural, descreve a realidade no país de Sassou Nguesso: “No Congo há uma democracia de fachada. É um sistema que se parece com uma democracia, em que há vários partidos, mas não há uma escolha real. O clã de Sassou Nguesso e o seu partido dominam o país e recebem benefícios económicos.”
Na semana passada, três candidatos à Presidência anunciaram a criação de uma comissão eleitoral paralela à Comissão Nacional Eleitoral Independente, que recusam reconhecer, afirmando que a comissão está “ao serviço do poder”. Um dos mentores da iniciativa, o candidato independente Jean-Marie Michel Mokoko, é considerado o mais forte entre os oito rivais de Denis Sassou Nguesso. O general Mokoko foi comandante do exército e era conselheiro próximo do atual Presidente. Para o regime Mokoko representa um perigo, diz Andreas Mehler: “Quando se decidiu candidatar no início do ano, provavelmente não por acaso, logo em seguida apareceu um vídeo que o mostra alegadamente a planear um golpe de Estado. Foi brevemente detido e posto em liberdade.”
Receio de confrontos
Em Fevereiro, a União Europeia anunciou que não iria enviar observadores eleitorais ao Congo, alegando que não foram criadas as condições para eleições livres e justas. Também o partido no poder em França pediu que as eleições fossem adiadas, acusando Denis Sassou Nguesso de intimidar os seus opositores e minar a democracia.
Com a queda dos preços do petróleo - o principal produto de exportação do Congo – a pobreza agravou-se no país e a contestação popular tem vindo a aumentar. Entre a população, há quem tema confrontos na capital, Brazzaville, após as eleições deste domingo. Já Denis Sassou Nguesso promete vencer as eleições à primeira volta.