RDC: Após dois anos de espera, congoleses vão às urnas
30 de dezembro de 2018Cerca de 39 milhões de eleitores foram, este domingo (30.12), chamados às urnas na República Democrática do Congo (RDC). Um ato eleitoral já considerado "histórico" pois acontece dois anos depois do previsto e 17 anos após a chegada ao poder do Presidente Joseph Kabila.
As primeiras mesas de votos abriram às seis da manhã, hora local, e desde logo começaram a formar-se filas. Os problemas também não tardaram a chegar, nomeadamente, por causa da contestada introdução das máquinas de voto eletrónicas. As chuvas torrenciais que se fizeram sentir em algumas zonas do país também ameaçam a participação em algumas mesas de voto. Em outras, deram conta eleitores, as listas de voto não chegaram a horas.
A Igreja Católica congolesa enviou uma enorme equipa de observadores para estas eleições. Um dos eleitores afirmou à AFP que 830 assembleias de voto não foram abertas dentro do tempo, em alguns casos por causa de "defeitos" das máquinas de voto. Em Lubumbashi, um observador de um dos candidatos fez saber também que "existiram cinco ou seis seções de voto onde as máquinas não estavam a funcionar".
Também os eleitores deram um feedback negativo. À saída da mesa onde votou, na capital Kinshasa, uma senhora idosa disse ter tido dificuldades com o ecrã táctil. "É muito complicado. Apertei o botão sem realmente saber em quem votei - não vi o número ou o rosto do meu candidato", reclamou.
Numa entrevista à televisão estatal, o porta-voz da Comissão Eleitoral (CENI) admitiu estarem a registar-se "alguns problemas". "Quando surge um problema, a solução não é perfeita, mas estamos a optar pelo mal menor", disse.
Incidentes
Ao final da tarde, o padre Donatien N'shole, da Conferência Episcopal Nacional do Congo, afirmou em Kinshasa, terem-se registado vários incidentes de violência no sudoeste e no nordeste do país. Na província de Mai-Ndombe, no sudoeste do país, por exemplo, os eleitores vandalizaram o gabinete da comissão eleitoral devido à escassez de material para a votação. A mesma fonte deu conta que foram registados, em todo o país, um total de 194 casos de violência.
"Já ganhei", diz Shadary
O ainda presidente Joseph Kabila, que esta semana, em entrevista à DW, fez um balanço positivo da sua liderança, votou em Kinshasa, ao lado do seu "delfim" e ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary. Em entrevista à DW, Kabila desafiou o povo congolês a ir votar. " A minha mensagem para o povo é que venha e vote no seu candidato, apesar da chuva". Também Emmanuel Shadary apelou ao voto, pedindo que a "violência seja evitada". "Votámos em boas condições, está tudo em ordem e, por isso, convidamos todos os que nos seguem a fazer o mesmo", afirmou Shadary, que se mostrou confiante na vitória. "Eu já ganhei, basta olhar para tudo o que aconteceu durante a campanha ... serei eleito, sou o presidente a partir de hoje à noite", garantiu.
Pouco tempo depois de Joseph Kabila e Emmanuel Shadary, chegou um dos dois principais candidatos da oposição, Martin Fayulu, que "veste a camisola" da coligação Lamuka. "É um grande dia para mim, é um grande dia para o Congo porque é o fim da ditadura, é o fim da arbitrariedade, é o fim do regime de Joseph Kabila", disse Martin Fayulu.
A coligação Lamuka inclui Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, duas grandes figuras da oposição congolesa que foram colocadas fora desta corrida eleitoral.
Voto fictício em Beni
Em Beni, no nordeste da RDC, foi improvisada uma votação fictícia em protesto ao adiamento das eleições gerais para março de 2019. Organizações de jovens e a população instalaram uma urna no campo de Kalinda, na qual centenas de pessoas formaram uma fila única para exercer o seu direito de voto. A ação ocorreu sem incidentes com as forças de segurança.
Também em Goma, capital da província de Kivu do Norte, a votação estava, ao final da manhã, a desenrolar-se com tranquilidade. "Existem pequenos problemas técnicos (com o uso das máquinas ou máquinas que se estragaram...)", relatou o correspondente da DW em Goma.
Sondagens dão vitória a Fayulu
De acordo com Jason Stearns, do Centro de Estudos do Congo, com sede em Nova Iorque, as sondagens dão a vitória clara a Martin Fayulu, com 44% das intenções de voto. Segue-se Felix Tshisekedi com 24% e Shadary com 14%.
No entanto, acrescenta o investigador, "o potencial de violência é extremamente alto". De acordo com a mesma sondagem, entre 43 e 63 por cento dos entrevistados disseram que não aceitariam os resultados caso Emmanuel Ramazani Shadary, o candidato escolhido por Joseph Kabila, fosse declarado vencedor. Uma percentagem também bastante elevada - 43% e 53% - disse não confiar nos tribunais da RDC para resolver qualquer disputa eleitoral de forma justa.