Angolanos compram apartamentos no "Estoril Sol Residence"
14 de agosto de 2012
A crise económica e financeira em Portugal abala o negócio das empresas do ramo da construção e obras públicas, arrastando consigo grande parte das que estão ligadas ao setor do imobiliário. Mas as empresas que se internacionalizam e as que apresentam ao mercado produtos de diferenciação e de qualidade podem respirar de alívio e ter mais certeza em relação ao futuro. É exemplo disso o luxuoso complexo residencial construído há dois anos no Estoril, concelho de Cascais, distrito de Lisboa.
Nesse complexo, os preços de venda variam entre um milhão e cinco milhões de euros. Apesar da conjuntura de crise que se vive em Portugal, o negócio tem corrido muito bem, nas palavras do diretor geral da agência de mediação Porta da Frente, que gere as vendas dos apartamentos dos empreendimentos Atlântico e Estoril Sol Residence, este também conhecido por “Prédio dos Angolanos”.
Rafael Ascenso, diretor geral da agência, aplica ao caso o ditado asiático, segundo o qual “os chineses dizem que a crise tem duas vertentes, a derrocada e a oportunidade” e, nesse sentido, prossegue o responsável, “o mercado imobiliário também tem que ser olhado dessa forma, também como um mercado de oportunidades nesta altura. E o facto é que ao nível das transações, que é aquilo que nós fazemos, elas têm continuado a existir, temos continuado a vender”, assegura.
O Estoril Residente, na orla marítima de Cascais, tem 107 apartamentos, dos quais apenas faltam vender sete. Rafael Ascenso explica que as três últimas vendas foram feitas a portugueses. Além deles, também os angolanos “têm algum peso, mas estão longe, muito longe de serem a maioria” dos compradores daqueles apartamentos de luxo, sustenta.
O diretor geral de vendas das residências do "Estoril Sol Residence" critica a ideia de que os angolanos sejam a maioria dos compradores, afirmando que “a imprensa fez eco dessa mensagem, mas não corresponde, de todo, à realidade”.
Personalidades angolanas são vizinhas em Lisboa
O complexo residencial no concelho de Cascais, que comporta três edifícios de uma arquitetura singular, impressionou várias figuras da elite política angolana. Algumas delas foram referenciadas no site anticorrupção "Maka Angola", após um trabalho de investigação coordenado pelo jornalista angolano Rafael Marques, que confirma a aquisição de apartamentos naquele projeto imobiliário.
Um dos nomes referenciados é o de António Domingos Pitra Costa Neto, atual ministro da Administração Pública, e de Fátima Geovetty, esposa do ministro do Estado e chefe da Casa Militar, general Hélder Vieira Dias, conhecido como “Kopelipa”. De acordo com a página na internet “Maka Angola”, Pitra Neto é dono de cinco apartamentos na Torre Baía e tem como vizinhos o casal “Kopelipa”, no 9º e 14º andares.
Vários outros nomes são apontados como proprietários, entre os quais o de José Pedro de Morais, ex-ministro das Finanças, com quatro apartamentos, e o do antigo diretor da empresa diamantífera Endiama, Noé Baltazar. Também se fala de Manuel Vicente, ministro da Coordenação Económica e da empresária Isabel dos Santos, filha do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que terá feito a mais recente aquisição no último andar da Torre Estoril, por 11 milhões de euros.
Alguns dos proprietários, do círculo do poder em Angola, estão sob investigação em Portugal por suspeita de violação da lei de branqueamento de capitais.
Em Cascais, a DW África ouviu alguns cidadãos angolanos sobre estas aquisições. Um deles reconhece que “a gente já ouviu falar disso, porque aqui nada se esconde. A gente sabe que membros do governo têm coisas aqui, bens preciosos, luxos”. Uma senhora concorda, testemunhando que vários elementos da elite de Angola “são donos de vários apartamentos. Eles têm aqui balúrdios de valores em dinheiro e o nosso povo a passa miséria. É isso que eu não concordo”.
Opinião diferente tem Carlos dos Santos, empresário português a trabalhar em Angola, que pensa que “tudo o que vier de fora é bom. O que interessa é injetar capital em Portugal para ajudar a vencer a crise”, confessa. Este cidadão considera que se está a criar uma espécie de mito sobre os investimentos de angolanos em Portugal.