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Empresários alemães à descoberta de Moçambique

13 de setembro de 2011

No Encontro Económico Alemanha-Moçambique, que se realizou esta segunda-feira (12.09.), foram apresentadas opções de investimento em Moçambique, que vão do setor de mineração ao turismo e passam pela agricultura.

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Moçambique apresenta grande potencial para empresas alemãs
Moçambique apresenta grande potencial para empresas alemãsFoto: DW

Distribuído aos cerca de 80 representantes de empresas e algumas autoridades alemãs e moçambicanas em Frankfurt, um artigo publicado no jornal interno da Câmara de Comércio e Indústria da cidade alemã enumera as potenciais vantagens de se investir em Moçambique: nos últimos anos, o país africano passou pela crise financeira internacional com um crescimento económico em torno dos 6% ao ano; depois de passar por uma guerra civil de 16 anos, Moçambique possui estabilidade política que “não se encontra em toda a parte na África Austral”.

E o país, segundo o artigo, tem enorme potencial no setor agrícola, com terras aráveis de qualidade, nas matérias-primas como carvão e outros minérios, no setor da energia e até no turismo. O embaixador da Alemanha em Moçambique, Ulrich Klöckner, apressou os alemães a investirem no país africano, uma vez que o país tem um “enorme potencial” para empresas alemãs e a “concorrência – especialmente países emergentes como o Brasil, a China, a Índia e a África do Sul já estão presentes lá e aproveitam essas oportunidades de negócios”.

Durante o encontro, alguns participantes também manifestaram surpresa com o facto de a Alemanha estar tão pouco presente em Moçambique. Uma realidade que o representante do Governo alemão espera ver mudar dentro de dez anos – investindo especialmente em projetos ligados à infra-estrutura. Esta falta de infra-estrutura, por exemplo em ferrovias, é uma das principais lacunas na economia de Moçambique, disse Eric Kohn, diretor executivo da exploradora de minérios britânica Noventa: “Mas não basta levar ferrovias a Moçambique, é preciso usar mão de obra moçambicana, fazer uma fábrica local para construir os vagões, por exemplo, e tentar desenvolver o país”.

Muitos pequenos agricultores não têm acesso às estradas que ligam as cidades
Muitos pequenos agricultores não têm acesso às estradas que ligam as cidadesFoto: DW

Investir em Moçambique vai além do setor dos minérios

Um imenso potencial inexplorado, segundo Kohn, está no setor agrícola. Ele citou o facto de Moçambique importar leite da África do Sul, em vez de criar as próprias vacas.

Também o ministro da Indústria e do Comércio de Moçambique, Armando Inroga, afirmou que o país tem “36 milhões de hectares de terra arável, e apenas usa para a sua produção agrícola – e para a exportação – cerca de 7%”.

“Vontade de trabalhar”

Entre as vantagens que encontrou no país, o empresário Eric Kohn opinou que Moçambique possui características que ele não encontrou noutros países no sul do continente africano. “Moçambique não tem tribos e é daltónico, ou seja, não discrimina pela cor”, disse Kohn, que destacou o facto de muitas mulheres em Moçambique ocuparem cargos políticos importantes. “Também existe uma cultura que não é tipicamente africana e que não encontramos em nenhum país da região, nem em Angola. É uma cultura em que as pessoas querem trabalhar, têm orgulho disso”, descreveu.

Comunicação entre setores sociais ajuda a combater instabilidade

Durante o encontro em Frankfurt, Adão Branco-Ferreira perguntou ao ministro da Indústria e do Comércio de Moçambique, Armando Inroga, como combater a pobreza para evitar insatisfação da população e uma consequente instabilidade no país africano, a exemplo do que aconteceu com revoltas no mundo árabe, como a Tunísia, no início do ano.

O próprio dono de uma empresa de consultoria administrativa sediada em Berlim esboçou uma resposta depois da conferência: “É possível, com educação, formação e criação de indústrias que ajudem no desenvolvimento de pequenas e médias empresas, que o país seja auto-sustentável num período de 15 a 20 anos”, sugeriu.

Segundo Branco-Ferreira, existe uma espécie de abismo entre setores da economia e sociais em Moçambique: as multinacionais, por exemplo, exigem um nível de qualificação que muitos trabalhadores moçambicanos não têm. “Uma salada, para ser vendida aos funcionários de uma empresa [multinacional], tem que seguir critérios de qualidade, segurança e higiene que muitos produtores não conhecem”, explicou o empresário.

O mercado informal abastece grande parte dos moçambicanos
O mercado informal abastece grande parte dos moçambicanosFoto: Ismael Miquidade

Risco de mais protestos?

Em setembro de 2010, centenas de moçambicanos saíram às ruas da capital Maputo para protestar contra o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade. Na altura, as manifestações resultaram em 13 mortes.

Adão Branco-Ferreira lembrou que grande parte da população moçambicana trabalha no setor informal. “Como o Governo não tem um plano, ou o plano parece que não está a ser aplicado para a criação de empregos a longo prazo para que se possa aumentar os salários, é difícil acomodar essa população”, descreve o empresário, que por outro lado considera difícil para o Governo planear medidas económicas, porque não sabe quais são, exatamente, as atividades da população no setor informal – e onde poderia cobrar mais impostos.

“É uma espécie de círculo vicioso”, afirmou Branco-Ferreira, que acha, no entanto, que eventuais novos protestos poderão ser evitados com investimentos de base, especialmente em pequenas e médias empresas.

Já o ministro Armando Inroga disse à Deutsche Welle que não acredita que haverá nova instabilidade em Moçambique, como as revoltas que aconteceram no ano passado. “Outros países do mundo estão numa situação muito mais preocupante em relação a questões alimentares do que Moçambique. Nós reestruturamos toda a nossa abordagem, tendo a agricultura como providenciadora de bens para a população”, afirmou Inroga. “Assim, temos a situação de estabilidade económica”, disse.

Autora: Renate Krieger (Frankfurt)

Edição: Marta Barroso/António Rocha

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