Especialistas condenam exportação de armas para Angola
15 de julho de 2011Por enquanto não há contratos assinados, mas caso o negócio se venha a concretizar, ele poderá ascender a um valor de até 100 milhões de euros.
Para o especialista em armamento, Marc von Boemcken, do Centro Internacional de Conversão, BICC, em Bona, esse é um problema, porque, em comparação com os países vizinhos, Angola “é um país altamente militarizado”, e que “investe apenas uma ínfima parte do seu orçamento na formação e na saúde”.
Para von Boemcken, Luanda devia reduzir as despesas militares e aumentar os orçamentos sociais. “Ao fecharmos negócios de armas com Angola, não estamos a apoiar esse desenvolvimento, antes pelo contrário", disse.
Modernizar o exército
Nas suas consultas em Luanda, a chanceler, Angela Merkel, disse que modernizar o exército angolano é um objetivo político. A chefe do governo salientou ser do interesse da Alemanha que os exércitos africanos estejam em condições de solucionar sozinhos os conflitos do continente.
Mas o diretor científico do Instituto da Política de Segurança, em Hamburgo, Michael Brzoska, avisa que é preciso ter cuidado: "Vejo com maior apreensão a formação dos soldados angolanos do que a entrega de barcos de patrulha. Claro que é desejável que os africanos resolvam os seus próprios conflitos. Mas desejaria que fossem especificamente formados para missões de paz em centros como o de Kofi Annan, no Gana. Se o fizermos em Angola, há sempre o perigo destes soldados serem instrumentalizados para fins de política interna".
Militarização da disputa com países vizinhos?
Enquanto este especialista não vê inconvenientes em entregar os barcos de patrulha a Luanda, que considera ter um interesse legítimo em tornar as suas fronteiras mais seguras, Marc von Boemcken, do BICC, rejeita essa argumentação:
"É preciso não esquecer que Angola está envolvida em dois conflitos territoriais marítimos, com a República Democrática do Congo e com o Congo-Brazzaville”, refere. “A disputa gira em torno das reservas de petróleo ‘off-shore’. O fornecimento de barcos de patrulha a Angola arrisca-se a desencadear uma dinâmica de armamento que pode culminar na militarização do conflito. Mas o objetivo devia ser uma solução pacífica no âmbito das Nações Unidas".
Este especialista defende que a Alemanha não deve exportar armas para qualquer país que viole os direitos do homem. E para von Boemcken, Angola é precisamente um desses países, porque é governado de forma autocrática e repressiva pelo Presidente, José Eduardo dos Santos.
Autoras: Sandra Petersmann / Cristina Krippahl
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha